ARTIGO DE OPINIÃO – O Belo: O Convite a Ver

05/12/2024 18:18

O belo é um daqueles temas que atravessa o tempo, viajando desde os antigos filósofos gregos até as redes sociais contemporâneas, onde a estética reina em cada filtro e pose. Mas, diferentemente de um conceito que pode ser encaixotado, o belo é essencialmente uma experiência, um diálogo entre o olhar e o mundo.

Pensemos no céu ao entardecer, tingido de cores que nunca conseguimos replicar com exatidão. É um espetáculo gratuito e efémero, mas nele reside a essência do belo: algo que nos surpreende, nos emociona, e, por um instante, silencia a nossa mente. Esse tipo de beleza não é produzida; é revelada. Está lá, esperando por quem tem olhos para ver. Revela-se na Simplicidade.

Por outro lado, há o belo que o ser humano cria, molda, sonha. Uma sinfonia de Beethoven, um poema de Sophia ou até mesmo a arquitetura de uma catedral gótica. Aqui, o belo é trabalho, técnica e inspiração. É como se traduzíssemos a perfeição do universo em algo que podemos tocar, ouvir ou habitar. E é fascinante como conseguimos, às vezes, chegar tão perto de capturar o infinito. Revela-se como Criação.

E o que dizer do belo que nasce no inesperado? Uma cicatriz que conta uma história, o sorriso cheio de imperfeições que traduz autenticidade. Hoje, vivemos bombardeados por imagens de uma beleza padrão: a pele sem marcas, o corpo sem falhas, o ângulo sempre ideal. Mas há algo profundamente tocante naquilo que é real, vulnerável e único. A imperfeição, talvez, seja a maneira do belo nos lembrar que somos humanos. Revela-se na Imperfeição.

Há ainda um aspecto quase espiritual na busca pelo belo. Encontrá-lo é mais do que um prazer; é uma forma de nos conectarmos com algo maior. É o belo que nos inspira a cuidar de um jardim, a pintar uma parede com uma cor vibrante, ou simplesmente a caminhar por uma floresta. Ele tira-nos da pressa, do consumo vazio, e coloca-nos na presença de algo essencial. Revela-se como Caminho.

No fundo, o belo é um convite. Um convite para ver além da superfície, para reparar no detalhe, para nos permitirmos sentir. Num mundo tão acelerado, ele chama para a pausa. E nessa pausa, encontramos mais do que imagens bonitas; encontramo-nos a nós mesmos.

O belo, afinal, é um espelho: reflete aquilo que somos capazes de perceber. Quanto mais aprendemos a ver, mais o belo nos revela. Então, talvez o segredo seja apenas este: aprender a ver.

António Leal

Encenador/Diretor Artístico

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