ARTIGO DE OPINIÃO: A castanha, um produto ameaçado?

30/11/2024 18:30

Os castanheiros são árvores da família das “fagaceae”, podem atingir até 30 metros de altura, com belas copas enfeitadas. As castanhas (frutos) são geralmente três, o fruto capsular espinescente do castanheiro-da-europa (Castânea sativa).

Os castanheiros são espécies do gênero castanea, e distribuiu-se por uma dúzia de espécies. Presume-se que o castanheiro seja oriundo da Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso, acompanhando a história da civilização ocidental há mais de 100 mil anos.Constituiu um importante contributo calórico ao homem pré-histórico que também a utilizou na alimentação dos animais. Os gregos e os romanos colocavam castanhas em ânforas cheias de mel silvestre. Este conservava o alimento e impregnava-o com o seu sabor. Os romanos incluíam a castanha nos seus banquetes. Durante a Idade Média, nos mosteiros e abadias, monges e freiras utilizavam frequentemente as castanhas nas suas receitas. Por esta altura, a castanha, era moída, tendo-se tornado mesmo um dos principais farináceos da Europa.

No território de Lafões a castanha sempre teve alguma importância gastronómica, fruto de época (na realidade é uma semente), admirado e honrado porque ligado a tradições seculares (como é o caso dos magustos associados ao culto a São Martinho). Ricas em vitaminas C e B6 e uma boa fonte de potássio. Consideradas, atualmente, quase como uma “guloseima” de época, as castanhas, em tempo idos, constituíram um nutritivo complemento alimentar, substituindo o pão na ausência deste, quando os rigores e escassez do Inverno se instalavam. Cozidas, assadas ou transformadas em farinha, as castanhas sempre foram um alimento muito popular.

Embora não assumindo um papel significativo na economia local (ao contrário dos soutos das Terras do Demo, por exemplo), a castanha aparece associada à gastronomia regional, para além dos magustos. Em doces e bolos, em cremes ou sopas, a castanha não pode ser ignorada no contexto da nossa gastronomia regional (pelos sabores que acrescenta, pelo caráter nutritivo, pela sua ancestralidade). Recordo ainda as práticas antigas de consumo da castanha seca, pelada, que ainda podemos encontrar à venda avulsa em feiras e mercados, guardada para tempos mais frios, porque calórica e capaz de aguentar os rigores do outono. Em terras de Resende, por exemplo, não muito longe de Lafões, ainda se preserva a tradição das “Falacheiras”, que teimam em preservar a tradição deste “pão divino” feito de castanha pelada e seca ao fumo da lareira. Todos os anos, no dia de S. Brás os devotos juntam-se para orar, vender falachas e confraternizar, desejando este reencontro todos os anos. 

A castanha está a sofrer de diversas doenças ameaçadoras da sua sobrevivência, (como a doença da tinta e certos cancros), e ainda a destruição causada por animais como os javalis e cabras bravas, já para não falar dos efeitos perversos das alterações climáticas. É preciso que cada um de nós, dentro das suas possibilidades, assuma um papel de intervenção e educação dos mais novos, plantando pelo menos um castanheiro, ou protegendo aqueles que nos foram deixados por herança. A castanha merece, e nós precisamos dela na nossa gastronomia tradicional. 

Carlos Almeida – Vice-Presidente da Confraria dos Gastrónomos de Lafões 

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