ARTIGO DE OPINIÃO: Cada tiro, cada melro!

12/01/2023 18:00

Carla Alves, a supersónica secretária de estado da Agricultura, não aqueceu, não conheceu os cantos à casa, e não deve ter apunhado a sua assinatura em qualquer documento da República.

Por ter arrestadas contas comuns com o marido, antigo presidente da câmara de Vinhais, suspeito de corrupção, saltou do cadeirão, mal sentiu que os ventos húmidos de Lisboa não corriam de feição.

Também tenho dúvidas que a senhora tenha de pagar por alegadas asneiras do marido.

O que retive, e fica para a História, foi a desautorização pública dada pelo PR ao PM, quando este, freneticamente, a defendia no Parlamento.

Disse Celito, no momento, que a dita cuja era um “peso político negativo”, leia-se activo tóxico, e tanto bastou para que a senhora se pusesse ao fresco. Percebendo-se limitada politicamente, apanhou o alfa pendular até ao Porto, e daí, da cidade invicta a Vinhais foi um pulo.

Nem chegou a ter saudades das amizades.

Entretanto, nesta galhofa em que se tornou a governação indígena, o Dr. António, talvez pensando que o PR é iniciado nestas andanças, sacou da cartola um coelho morto: doravante, urgia introduzir melhorias no sistema de avaliação prévia dos governantes, propondo-se partilhar o respectivo escrutínio com Belém, dividindo o ónus de futuros erros.

Nem o mais virgem dos imaculados aceitaria tal insidiosa rasteira, quanto mais Celito, mestre há anos nessa arte.

Instituam-se as audições parlamentes para, desossando o passado, se formalizar a verificação de incompatibilidades, digo eu aqui das Beiras.

Somando ao ridículo, eis que, no entrementes, Rita Marques, a ex-secretária de estado do Turismo, substituída em Dezembro, em ruptura com o ministro, ingressa passado um mês, como administradora, numa holding, “The Fladgate Partnership”, que possui negócios no Vinho do Porto, turismo e distribuição, cuja empresa fundadora do grupo é a “Taylor’s”, fundada em 1692, e que detém a WOW, que gere, entre outros, o quarteirão cultural de Gaia, e a quem concedeu o estatuto definitivo de utilidade turística, com a bonificação da isenção de taxas e concessão de benefícios fiscais.

Fica com a responsabilidade da divisão de hotéis e do turismo.

Numa frase sem adornos nem adereços, vai gerir projectos a quem deu benefícios.

Numa linguagem mais chã: aproveitou-se do cargo.

Sabendo do período de nojo de 3 anos a que está sujeita, não podendo, nesse período, integrar grupos económicos que tutelou, e conhecendo que a sanção que a aguarda é a impossibilidade de retomar cargos públicos nos próximos 3 anos, a excelência diz-se segura das decisões tomadas, considera legítima a sua opção e afirma-se muito entusiasmada com o futuro. Pudera que não estivesse…

Convenhamos que não é para menos.

É a maior defecação na ética republicana.

Estas portas giratórias, estes vasos comunicantes entre a política e os negócios deixa sempre uma presunção de negociatas e um rasto de suspeita de jogos de favores.

Os áulicos do governo, os cortesãos servidores e os súbditos palacianos limitam-se a classificar a doença como “não sendo razoável”.

É pouco.

Portugal transformou-se no país dos escândalos e dos embaraços, ou mais eruditamente, no país onde as contestações se qualificam de “erros de percepção”.

Somos um país com defeitos, mas com uma grande virtude: temos um léxico verdadeiramente rico!

Por arrasto, é detido o presidente da Câmara de Espinho, atingindo por ricochete o ex-detentor do cargo e actual vice-presidente da bancada parlamentar do PSD e também o escritório de advogados de Luís Montenegro, candidato a PM, que beneficiou de ajustes directos daquele município.

Não tardará o dia em que só em saldos, promoções e rebaixas de preços se encontrarão espécies recrutáveis para o exercício de cargos políticos.

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