«Ai destino, ai destino», cantado à capela – como convém – por Madalena de Vilhena, com arranjo de Almeida Garrett, seguido de «Vais partir (naquela estrada)», com interpretação de Carlos da Maia, bem arranjado por Eça de Queirós.
Se é verdade que a palavra «regresso» nos pode trazer ao pensamento ideias felizes – como a de um filho que regressa a casa ou a do regresso à normalidade depois de um período conturbado, como acontece com o regresso às aulas depois de umas férias das quais regressamos ainda mais cansados do que antes de irmos – não é menos verdade que pode provocar o efeito inverso, e só não falo do «Regresso da Lassie» por oposição ao «Regresso da Múmia» para não me perder no raciocínio e poder regressar ao assunto principal, ainda que o «Regresso ao Futuro» me tente desviar do caminho, é melhor mudar de parágrafo antes que o automóvel levante voo.
Como já percebemos, assim como nem tudo o que luz é ouro também nem todos os regressos são motivo de alegria; de facto, há regressos que trazem consigo – literal e literariamente – uma catástrofe. Basta pensar no que acontece com o regresso de D. João de Portugal, em «Frei Luís de Sousa», e com o regresso de Maria Eduarda, em «Os Maias». Na verdade, tirando a barba, não há muita diferença entre eles. Ora vejamos: se Madalena manda procurar o marido sem êxito – ainda estive para mudar o «sem êxito» de sítio, mas não podemos dizer que tivesse sido um marido com sucesso – também Afonso manda perguntar pela neta, tendo-lhe sido dito que tinha morrido. Ora bem, num e noutro caso, o assunto estava encerrado, ou melhor, enterrado. Depois, e ignorando todos os sinais, vá-se lá saber como é que Madalena, sempre tão aterrorizada pelo fantasma do marido, não é capaz, na hora H, de o reconhecer em carne e osso e bastão. E também o viajado Carlos da Maia não é capaz de ir mais longe quando Maria Eduarda lhe diz que lhe acha parecenças com a mãe dela. Pudera, se era também a mãe dele.
Regressados do reino dos mortos onde se julgava terem eterna morada, acabam por vir bater à porta do passado, enquanto o destino põe um visto no seu rol de desgraças, no qual ainda havia espaço para acrescentar a morte de Maria, filha de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho, e a morte de Afonso. É sempre assim, por causa de uns pagam os outros, é certo que Maria sofria de tuberculose e Afonso era mais velho do que o século, mas mereciam outro final, assim houvesse pena. É por estas e por outras que os escritores são seres intelectuais, já lá dizia o outro – regressamos sempre a Pessoa – «Sentir? Sinta quem lê!»
Elisabete Bárbara