A milhares de quilómetros de distância, tão longe dos barulhos dos tanques, que arrasam cidades, e dos mísseis, que iluminam os céus, parece que não é nada connosco, mas é!
As consequências sociais e económicas do maior conflito armado em solo europeu, após a 2ª Guerra Mundial, serão devastadoras, incalculáveis, e de longa duração.
Os efeitos imediatos já estão aí, no aumento brutal do preço da energia e dos combustíveis, vivendo um choque petrolífero só comparável ao dos anos 70, e dos bens alimentares, tendo presente que a Ucrânia é o maior celeiro da Europa. Provavelmente, o tempo trará a escassez de alguns deles e, se o conflito durar, como parece estar para acontecer, até o seu racionamento. O cenário de prateleiras vazias e de fome não é ficção.
Com a inflação portuguesa, ainda sem incorporar os efeitos da guerra, já nos 4.2%, a maior desde 2011, e a anunciada subida das taxas de juro, difíceis de acomodar no orçamento de muitas famílias portuguesas, não tardará que a palavra recessão regresse ao nosso léxico quotidiano.
O êxodo de milhões de ucranianos, que fogem para países de acolhimento, e o aumento do custo de vida para muitas famílias portuguesas, a viverem já no limiar da pobreza, farão soar os alarmes e reforçar os orçamentos do Estado Social.
Apesar das relações comerciais com a Rússia e a Ucrânia serem pouco relevantes, teremos pela frente uma dura crise a que, após a pandemia, teremos de responder com coesão e unidade nacionais. Não seria descabido que, a nível interno, se estabelecessem consensos entre as diversas forças partidárias sobre as melhores soluções para mais eficazmente se enfrentar o pior que está para vir.
Tréguas, no imediato, na guerrilha partidária e na responsabilização do governo por medidas que venha a tomar, em resultado do quadro actual, e sentar à mesa partidos, sindicatos e entidades patronais, talvez fosse a demonstração de sentido de Estado e da real defesa do interesse nacional. E para sairmos inteiros de um conflito que ameaça todos, provocando danos colaterais em todo o mundo.
Até porque com a guerra a ocupar o espaço noticioso, pouco lugar haverá para o debate político, ou disposição sequer para lhe dar grande importância. E atirar ao governo por medidas de que não é culpado seria sinal de infantilidade e amadorismo políticos.
Com uma legislatura de 4 anos pela frente e um governo de maioria absoluta, não faltarão ocasiões nem razões para se açoitar, sem pudor nem contenção, e se o merecer, o executivo que haverá de tomar posse não tarda.
Haja paciência, nervos de aço e gelo nos pulsos!