Tondela: Festa transversal do teatro arranca hoje com o FINTA

14/11/2024 12:52

O FINTA – Festival Internacional de Teatro ACERT está à porta e com uma edição programada com grandes momentos.  Os 30 anos do festival vão-se assinalar ao longo de duas semanas, de 14 a 16 e de 21 a 23 de novembro, com espetáculos marcados por estreias nacionais e estrangeiras, com diversas linguagens artísticas, e dirigidos a públicos de diferentes idades, dentro e fora de portas. Os detalhes dos bastidores e as ambições futuras foram trazidos ao de cima por Sandra Santos, responsável pela programação do FINTA, em entrevista ao portal Viseu Now.

VN – Cada edição do FINTA é única à sua maneira, mas 30 anos é um número redondo e grande. O que é que o público pode esperar nesta celebração?

SS – Na 30.ª edição do FINTA, vamos ter algumas novidades nacionais e também de companhias internacionais. Logo na abertura, teremos a estreia de “Hora Vazia”, do projeto “Meta Magic”. É um espetáculo que é o primeiro trabalho de ilusionismo moderno criado em Portugal e é interpretado por Zé Mágico, da região de Viseu. Ele tem vindo a desenvolver um interesse por esta nova corrente artística que é a “magie nouvelle” e que cruza várias linguagens como o teatro, a música, artes plásticas, o malabarismo e, claro, o ilusionismo. Este é um espetáculo no qual a ACERT é coprodutora e que explora a natureza do destino e do livre-arbítrio, onde o público será convidado a uma imersão sensorial e introspectiva.

No arranque temos outra estreia, que procura promover jovens criadores da região e que, de alguma forma, iniciaram a sua formação artística na ACERT. É o projeto “Santos da Casa”. Esta rubrica já existe durante a programação da ACERT, mas na área da música. Agora, vamos lançar os “Santos da Casa Teatro”. 

Convidámos duas jovens atrizes, que iniciaram a sua formação no “Na Xina Lua”, que é o Grupo de Teatro da Escola Secundária de Tondela e tem residência artística na ACERT. No fundo, elas cresceram aqui, ganharam aqui o gosto pelo teatro e agora, que terminaram a formação teatral e já estão a desenvolver os seus projetos, desafiamo-las a criarem espetáculos de propósito para o FINTA. O objetivo foi darmos voz a estes jovens artistas, que estão a iniciar a sua carreira e que muitas vezes não têm a oportunidade de criar espetáculos na localidade de onde são. É como um regressar a casa para apresentarem os seus projetos. Portanto, teremos duas estreias, neste “Santos da Casa Teatro”. A primeira, “Das mãos surgem a luminescência e o adeus do teu rosto”, a 14 de novembro, com Teresa Machado; e, depois, dia 21, com Andreia Fernandes, que irá apresentar “As lesmas não são tão diferentes dos caracóis”. 

Depois, além destas estreias, teremos algumas companhias de fora que se apresentam pela primeira vez em Portugal. De Espanha, vem “Le Puant”, com o espetáculo “Tot Sol… I Núvol”. Nesse mesmo dia 16, teremos, no Auditório Carla Torres, o espetáculo “Across”, da companhia “Squadra Sua”, da Chéquia. E, no último dia do festival, será a vez da companhia italiano-belga, chamada “Piergiorgio Milano”, apresentar “White Out – La conquête de l’inutile”, que traz a novidade do uso do alpinismo como linguagem artística, numa fusão entre a dança, o teatro e o novo circo.

VN – Mas esta diversidade vai poder ser apreciada para além da ACERT…

SS – Sim, à parte destas estreias, teremos igualmente o “FINTA Fora de Portas”, que são apresentações direcionados para a comunidade sénior e que irão decorrer em Centros de Dia ou Centros de Lazer, uma vez que essas pessoas já não se conseguem deslocar à ACERT para assistir aos espetáculos. As duas propostas são da Quinta Oficina. Uma delas é o “Trocador de histórias”, com José Pedro Ramos como contador de histórias. A outra, realizada pela Daniela Matos, une “Clown, Magia e Malabarismo”.

VN – Muito se alterou em três décadas ao nível de públicos, produtores, atores, linguagens, … Mas como definiria aquele traço que se manteve comum?

SS – O FINTA é o Festival Internacional de Teatro da ACERT que, naturalmente, teria de ter a presença de companhias de outros países. Neste caso, o que procuramos é trazer linguagens distintas. Não é que isso não aconteça nos diferentes projetos artísticos que existem em Portugal, mas sabemos que, às vezes, só temos possibilidade de os ver em grandes centros, como no Porto, em Lisboa, Coimbra, Guimarães, enfim. Achamos que o nosso público merece ter essa variedade, essa possibilidade de assistir a espetáculos que normalmente nunca teria oportunidade de ver. Ao trazer estas companhias estrangeiras queremos abrir novos horizontes e dar oferta cultural diversificada ao nosso público e a nós próprios também enquanto criadores. Muitos destes espetáculos são igualmente inspiradores para o próprio Trigo Limpo e para os nossos projetos artísticos. De alguma forma, todos nós crescemos. Vamos aprimorando o nosso gosto e abrindo-nos a outras formas de fazer teatro. Outra linha orientadora é a de selecionar espetáculos com estéticas e linguagens teatrais diferentes, em que o teatro se cruza com outras disciplinas artísticas, como por exemplo o ilusionismo, o alpinismo ou o novo circo.

A escolha de espetáculos direcionados para todas as idades também é algo que sempre procuramos no FINTA. Naturalmente, cada faixa etária entenderá os espetáculos de formas diferentes. Por exemplo, nós vamos ter o espetáculo da Formiga Atómica, “O Terminal (O Estado do Mundo)”, que certamente os adultos entenderão de um modo e as crianças ou adolescentes de um outro. E é isso que nós procuramos. Até o poder depois gerar uma conversa entre a própria família, o que acharam ou os interesses que encontraram ali comuns.

VN – A educação e consciencialização social através da cultura pode também ser adicionada à lista?

SS – Este ano, há um tema comum em quase todos os espetáculos, que é uma reflexão sobre a condição humana, as escolhas que fazemos, o viver em sociedade, o estado da democracia, a vulnerabilidade humana, o medo, a solidão, o amor, os sonhos, os desafios, para onde caminhamos e que rumo queremos tomar. Não quer dizer que os espetáculos respondam a estas questões. Se calhar abrem até mais questões. E esta reflexão nem sempre tem de ser algo pesado. Aliás, há espetáculos que fazem esta introspecção de uma forma bastante leve, divertida, por vezes sem palavras. O que não pode acontecer é ficarmos indiferentes àquilo que está à nossa volta e é esse o nosso dever enquanto artistas, de refletir sobre a vida, o momento presente. E, portanto, promover esse diálogo e essa reflexão no público faz parte daqueles que são os objetivos do festival e do modo como entendemos que deve ser a arte.

VN – Grandes aniversários são propensos a balanços e a olhares para o futuro. O que pode dizer do FINTA?

SS – Comemorar trinta edições do FINTA é um marco muito importante para nós. Por um lado, porque ao longo destes anos nunca deixamos de o fazer, nem durante a pandemia. E depois, ter este festival, com esta longevidade, numa cidade pequena, numa região do interior do país, é extremamente gratificante. Esperamos, contudo, fazer muitas mais edições e sempre ligados à comunidade. Queremos continuar a crescer juntos, por um lado, criando públicos e, por outro lado, ir aprimorando este gosto pelo teatro, nas suas diferentes formas, enquanto somos desafiados, pelo próprio público, a tentar alcançar sempre algo adicional e trazer mais novidades. 

O programa completo, que incluiu ainda sessões para escolas, uma exposição, um documentário, oficinas e o lançamento de dois novos Cadernos de Teatro, pode ser consultado em www.acert.pt/finta/

Os ingressos estão disponíveis através da bilheteira física da ACERT ou em https://acert.bol.pt

Foto // ACERT / “Terminal (O Estado do Mundo)” / Formiga Atómica

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