“Nós costumamos dizer que todo o verdadeiro sernancelhense tem um soito”

23/10/2019 18:12

Armando Mateus, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Sernancelhe, à conversa com o ViseuNow sobre os preparativos para mais uma Festa da Castanha, a decorrer nos dias 25, 26 e 27 de outubro.

 

Este é o evento com mais longevidade do concelho. Qual foi a estratégia seguida ao longo dos anos?

Para chegar a este patamar, que é o de uma grande festa de referência em torno da castanha, não só local, mas de toda uma região de denominação de origem protegida que é o Soutos da Lapa, a estratégia que o município optou e tem desenvolvido ao longo destas vinte e sete edições passa pela fidelidade e genuinidade das tradições e pela valorização de um produto endógeno que é a nossa castanha martainha. Esta variedade tem, sem dúvida, uma elevada importância socioeconómica e cultural no concelho e eu penso que a fidelidade que nós temos tido com este fruto, com as pessoas, com os nossos expositores e com a nossa cultura é que tem marcado a diferença. Por exemplo, damos prioridade aos produtores e vendedores de castanha, porém, todos os outros expositores que participam nesta feira têm a obrigação de possuir um elemento ligado à castanha, seja como fruto transformado ou imaginado para o artesanato.

 

E os resultados têm ido ao encontro das expetativas?

Sim. Os resultados vão completamente ao encontro das expetativas. Tem sido uma festa que, ao longo dos anos, tem tido um crescendo acentuado ao nível do número de visitantes. Tal acontece porque, obviamente, já não se trata somente de uma festa com stands. Têm-se disponibilizado outras ofertas como atividades desportivas, passeios, visitas a centros históricos, comboio turístico, uma enorme tenda gastronómica para poder provar a cozinha regional, que é também exclusivamente à base de castanha. Assim, esta oferta, que se foi multiplicando e diversificando, acabou por atrair cada vez mais interessados e, portanto, as expetativas que vamos colocando para cada ano são sempre largamente ultrapassadas.

 

Apesar da castanha ser o ex-líbris da festa referiu que existem outras atividades desportivas, culturais e recreativas para o público em geral. Quais as novidades este ano?

Não acrescentamos mais iniciativas ao cartaz, o que optámos foi por alargar o número de participantes, como é o caso do BTT, que nesta edição ultrapassa as duas mil inscrições, ou a caminhada coletiva que já totaliza mais de mil. Depois existem outras atividades direcionadas para grupos, cujo número tem vindo a aumentar. Há aqui a destacar uma grande parceria com as agências de turismo e com operadores diversos que têm uma intervenção na captação de turistas. Cada vez mais temos visitantes de forma organizada, com excursões, e, portanto, as provas mantêm-se, mas com uma capacidade de absorver um maior número de pessoas. Esta afluência obriga-nos também a ter um maior cuidado com a gestão e segurança dos espaços. É necessário um planeamento minucioso e antecipado, de forma a minimizar os constrangimentos, como é o caso dos parques de estacionamento ou na zona de restauração na tenda gastronómica, ou ainda da sinalética disponível para todos os que se deslocam ao Exposalão.

 

Como foi a produção de castanha, este ano, no município?

A produção iniciou mais cedo, o que para nós é ótimo, pois assim há mais disponibilidade de produto para a Festa da Castanha, nos dias 25, 26 e 27, mas estamos perante uma produção baixa, já que a queda de castanha tem sido lenta. E há ainda a salientar uma variação enorme. Existem zonas de soito com uma produção média e com uma qualidade satisfatória. Há outras, porém, com baixa produção, nomeadamente aquelas que estão posicionadas em maior altitude, o que origina um atraso na produção. Mas o que se antevê, e segundo a informação que nós temos dos produtores, é que não estamos num ano de excelência. Estamos perante uma colheita média em termos de quantidade e qualidade.

 

Que balanço faz do setor no concelho de Sernancelhe?

Na última década, triplicamos a área de produção de castanha. Neste momento existem mais de mil hectares de produção da variedade martainha, o que equivale a um valor económico anual médio de 3,5 milhões de euros. Estamos a falar maioritariamente de explorações familiares, com menos de um hectare, mas que envolvem, de certa forma, toda a população do concelho. Nós costumamos dizer que todo o verdadeiro sernancelhense tem um soito. Curiosamente, a castanha não é o produto agrícola que aqui se produz em maior quantidade. A lista é encabeçada pela uva, maçã e azeitona, ocupando a castanha o quarto lugar. Contudo, devido à sua sazonalidade, e ao facto da procura exceder fortemente a oferta, a castanha é muito valorizada e o seu preço de aquisição é elevado, acabando por ter uma expressão enorme na economia do concelho. Na verdade, o seu valor económico é de tal ordem elevado que acaba por suplantar outras produções que nós temos em maior quantidade.

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