As arritmias cardíacas afetam milhares de pessoas em Portugal, provocando alterações no ritmo do coração que, em alguns casos, podem representar sérios riscos, como AVC e insuficiência cardíaca. A propósito do Dia Nacional do Doente Coronário, Luís Ferreira dos Santos, coordenador de Cardiologia no Hospital CUF Viseu, deixa uma mensagem de alerta à população sobre a importância de um diagnóstico precoce e acompanhamento médico regular. Nesta entrevista, o especialista destaca ainda os avanços que têm existido na qualidade e segurança dos tratamentos, garantindo uma melhor qualidade de vida aos doentes.
1. O que são arritmias cardíacas e qual a mais comum?
As disritmias cardíacas são todas as alterações ao ritmo normal do coração – designado ritmo sinusal – e genericamente são classificadas como taquicardias, no caso de frequências mais rápidas, ou como bradicardias, no caso de frequências mais lentas, e/ou irregulares. Resultam de alterações da formação e/ou da condução do estímulo elétrico no coração e podem ser benignas ou muito graves e até fatais.
A disritmia mais comum é a fibrilhação auricular, caracterizada por batimentos irregulares e descoordenados nas aurículas, que aumenta o risco de AVC, insuficiência cardíaca e outras complicações cardiovasculares.
2. Quais são os sinais de alerta?
Os principais sinais de alerta incluem palpitações (sensação de batimentos acelerados, irregulares ou “batidas extras”), tontura ou desmaios (síncope), dor no peito, falta de ar, fraqueza ou fadiga e suores frios. Se esses sintomas forem frequentes ou intensos, é essencial procurar avaliação clínica, pois algumas disritmias podem levar a complicações graves, como AVC, desmaio ou mesmo morte súbita.
3. Qual a importância de um diagnóstico precoce e de um acompanhamento médico regular?
O diagnóstico precoce é fundamental em arritmologia, na redução dos riscos associados às arritmias (como o acidente vascular cerebral ou a insuficiência cardíaca), para garantir uma maior eficácia nos tratamentos propostos (na fibrilhação auricular a precocidade do tratamento por estudo eletrofisiológico e isolamento das veias pulmonares têm impacto na taxa de sucesso e na redução do reaparecimento) e na prevenção de situações agudas emergente, como os desmaios que podem resultar em quedas e traumatismos ou até a morte súbita. O acompanhamento médico regular permite ajustar tratamentos e verificar a eficácia dos procedimentos, prevenir os fatores de risco como hipertensão, diabetes e colesterol elevado, que podem predispor a disritmias e melhorar a qualidade de vida.
4. De que valências dispõe o Hospital CUF Viseu que lhe permitem estar preparado para dar resposta às necessidades dos doentes?
O Hospital CUF Viseu tem uma experiência acumulada desde a sua abertura no diagnóstico, seguimento e tratamento de patologia do ritmo cardíaco. São já centenas os doentes tratados com dispositivos de modulação da atividade elétrica cardíaca, desde registadores de eventos, pacemakers a cardioversores desfibrilhadores implantados. É também assinalável o crescimento do número de doentes tratados por estudo eletrofisiológico e ablação por cateter. Neste momento, os doentes que nos procuram encontram capacidade instalada, tecnologia de ponta e uma equipa de profissionais experientes e especializados para tratar estas patologias.
5. O que tem mudado no tratamento destas doenças nos últimos anos?
Nos últimos anos, o avanço no tratamento das disritmias cardíacas tem evoluído muito significativamente e é no âmbito da medicina uma das áreas mais entusiasmantes e com maior crescimento.
Do ponto de vista do diagnóstico, salientamos o uso de dispositivos como de smartwatches com ECG (eletrocardiograma), permitindo a muitos doentes correlacionarem os sintomas de palpitações com o traçado eletrocardiográfico em tempo real, até agora mais difícil quando os episódios duram pouco tempo.
A grande revolução tem sido na qualidade e segurança dos tratamentos, quer em procedimentos minimamente invasivos, como a ablação, cada vez mais precisos e seguros, reduzindo a necessidade de medicamentos, quer nos dispositivos implantados, com pacemakers com estimulação mais fisiológica, com maior durabilidade e com monitorização remota.
Esses avanços têm melhorado significativamente a qualidade de vida das pessoas, reduzindo complicações e aumentando as taxas de sucesso no tratamento destas doenças.