Catarina Martins anunciou, em conferência de imprensa, esta manhã, que vai deixar a liderança do Bloco de Esquerda (BE).
Ao fim de três mandatos, a coordenadora, que ocupava o cargo desde 2014, depois de dois anos como cocoordenadora com João Semeado, anunciou que não se vai recandidatar na próxima convenção nacional, agendada para maio.
Esta decisão, da deputada de 49 anos que sucedeu a Francisco Louçã, vem um ano depois da derrota do Bloco de Esquerda, nas Legistativas, que perdeu 14 deputados, reduzindo de 19 para cinco.
Numa nota deixada na página do partido, Catarina Martins escreveu: “No Bloco não há períodos muito longos de funções como a da coordenação e nós gostamos dessa cultura, mas o que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está.»
A coordenadora falou da derrota de há um ano, mas também das vitórias eleitorais de 2015 e 2019.
«Estes dez anos foram um tempo extraordinário. Pusemos a direita fora do governo, em 2015 impusemos as condições que tornei públicas no debate com o primeiro-ministro e o PS foi obrigado a aceitar um acordo escrito sobre políticas de governação, o país respirou de alívio e iniciámos a recuperação das vidas de quem trabalha. A geringonça foi o princípio do respeito. Foi um tempo extraordinário em que o país melhorou. Ficou muito por fazer, mas com a força que nos confiaram foi possível avançar nas primeiras trincheiras do combate à precariedade, no respeito pelas pensões, na universalidade dos serviços públicos, tributámos o imobiliário milionário, recuperámos o salário mínimo, parámos várias privatizações que agora se descobre que continham outros tantos escândalos de ganância. A maioria absoluta, entretanto, veio mostrar que o PS nunca se conformou com este caminho e agora está mesmo a reverter algumas das medidas da geringonça, para não falar da grande reversão nos rendimentos de quem trabalha ou trabalhou a vida inteira.»
De saída, a dirigente deixou uma observação para o que fica por concretizar: «o Bloco é a luta por tudo o que está por conseguir, o que ainda não conseguimos fazer para assegurar uma carreira para a educação, um sistema de exclusividade que engrandeça os hospitais e centros de saúde, o fim de discriminações que magoam, uma vida digna para pensionistas, uma habitação que não seja a especulação cruel que destrói as nossas cidades, um planeta que não esteja doente e onde seja possível viver. Em contrapartida, as vitórias que me animam são o caminho que fizemos. Lembro que em breve concluiremos a lei da morte assistida, que permitirá a decência e garanto-vos que não desistimos de nenhum dos outros combates: sim, havemos de conseguir escola e saúde, pão e habitação, para adaptar o Sérgio Godinho.»
Foto: BE Viseu