O livro “Viseu Urbanidades”, de Alberto Correia, é como que o complemento de um outro livro anterior, “Viseu Ruralidades”. A cidade de Viseu é um importantíssimo centro histórico onde os vestígios civilizacionais e patrimoniais de tantas gerações ficaram expressos e vivos em monumentos singulares e numerosos.
Exemplarmente enunciam-se a propósito a Cava de Viriato, de tempos medievais, a majestade da Catedral como símbolo religioso, as poéticas janelas “manuelinas” da aurora da modernidade e as soberbas edificações do barroco, em paços e igrejas múltiplas, mas também edificações mais populares, de arquitetura singela, e que preservam grande parte do simbolismo da alma beirã, documentos intemporais para expressar as vivências das gerações que em continuidade a fizeram crescer, com alguns sobressaltos às vezes.
Cidade granítica, como revela o seu perfil, cresceu e espalhou-se em redor do casco da Sé. Cidade-encruzilhada onde o convívio é marca fundamental. Cidade-jardim cheia de verdes no envolvimento verdejante dos fartos pinhais da Beira. Cidade-museu com cativantes coleções e tesouros, mais importante esse o de Grão Vasco, onde se guarda o melhor tesouro da Cidade (e um dos maiores do país).
Nesta nova e singela obra, misto de verdadeiros poemas naturais e fotografias quase centenárias saídas da mestria do fotógrafo (Arquivo Foto Germano), podemos passear pelas urbanidades das memórias coletivas, resgatar sentimentos e recordações, admirando nesta cidade serrana um retrato humaníssimo criado pela expressividade e saudade dos textos do Dr. Alberto Correia e pela competência artística do fotógrafo Germano Bento Ferreira (e outros).
Fotografias a preto e branco de uma cidade que se vai renovando, são interpretadas pela narrativa emotiva do historiador, ligando de forma magistral a história dos monumentos (ou dos elementos) às memórias de um tempo fugidio que transforma e distancia.
Esta obra é uma visita de saudades por uma velha cidade (“prazenteira, amável, buliçosa: numa palavra, eminentemente jucunda”, nas palavras de Aquilino Ribeiro), mas que se transforma num documento histórico valioso, manual carinhoso de cromos com quase um século de existência, viagem que assume em cada leitor um espaço de reflexão, de revisitação, de reencontro ou apenas de admiração.
A obra é uma edição da Freguesia de Viseu, que agradecemos sobremaneira.
Carlos Almeida