ARTIGO DE OPINIÃO: Vamos falar de Cuidados Paliativos?

06/05/2023 18:30

O progresso científico a que temos assistido tem promovido a longevidade, dando origem à emergência de doenças crónicas e evolutivas. Mas passar a viver mais tempo, infelizmente, não significa que se passe a viver melhor. É fundamental a humanização dos cuidados e o respeito pelas necessidades particulares de cada um. É preciso cuidar a pessoa, muito para além da sua doença e adequar o plano de cuidados a cada fase do percurso, procurando sempre ter, tanto quanto possível, um impacto positivo na qualidade de vida e bem-estar do doente, sua família e cuidadores. 

Quando falamos de situações de doença avançada e progressiva, é importante garantir o acesso a Cuidados Paliativos em fase precoce, permitindo a intervenção atempada nas diferentes dimensões do sofrimento e, para além do controlo sintomático, trabalhar questões de significado, legado e realização. 

Existem ainda muitos mitos relacionados com os Cuidados Paliativos e os doentes que deles beneficiam, pelo que se torna fundamental o esclarecimento da comunidade, das famílias, de todos. Pensar os Cuidados Paliativos para os cuidados de fim e final de vida, associá-los apenas a situação de últimos dias, é redutor e incorreto. Os Cuidados Paliativos pretendem promover a vida e a dignidade, cuidando em todas as fases da doença avançada e incurável, oncológica e não oncológica. Há, ainda, mitos que se relacionam com os fármacos utilizados no alívio sintomático, nomeadamente na dor. Por um lado, há uma pressão cultural de aceitação e divinização da dor na pessoa doente, a dor é vista muitas vezes como uma via de redenção que faz parte do processo de doença, criando dificuldades à adesão e comprometendo o sucesso terapêutico. Por outro lado, há ainda uma fobia globalizada à utilização de determinados fármacos, nomeadamente opióides, relacionando-os com situações de final de vida e dependências. Na verdade, há múltiplas maneiras, farmacológicas e não farmacológicas, de abordar cada sintoma, controlando-o e mantendo o doente mais confortável e mais tranquilo, ajustando a intervenção do plano de cuidados a cada situação particular. 

Os Cuidados Paliativos assentam em equipas multidisciplinares que permitem um modelo de cuidados partilhados que vai muito além do diagnóstico e prognóstico e pretende dar resposta às reais necessidades de cada doente e da sua família, respeitando as suas dimensões física, psicológica, social e espiritual. A intervenção da equipa estende-se para lá da morte do doente, preocupando-se com o período de luto dos familiares e cuidadores. É importante reconhecer a complexidade das diferentes situações, e apoiar o doente e a sua família ao longo de todo o processo sendo, para isso, fundamental desenvolver competências técnicas especializadas e disponibilizar equipas dedicadas que permitam ao doente viver da melhor forma possível cada etapa do seu percurso. É neste contexto que nasce a nossa equipa, composta por profissionais de saúde com formação avançada na área. Pretendemos ser mais uma resposta de qualidade e compromisso, mais uma ferramenta na prestação de cuidados de saúde de excelência e diferenciação e uma garantia de apoio e acompanhamento do doente e seus familiares.

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