Se Maria encontra em Manuel de Sousa Coutinho um pai amoroso, já Teresa encontra em Tadeu de Albuquerque um pai despótico, que nada mais exige à filha do que submeter-se incondicionalmente à sua vontade. Da figura do pai herói à figura do pai tirano – e vêm-nos à memória, mais do que frases batidas, filmes da nossa vida – tem a literatura encontrado nas relações entre pais e filhos fonte privilegiada de inspiração.
Quando Pedro casa, contra a vontade do pai, com Maria Monforte, Afonso da Maia manda retirar da mesa o seu talher, mostrando claramente que, a partir daquele momento, Pedro da Maia já não tem lugar naquela casa e naquela família. Se Pedro não vacila na sua escolha, também Afonso não cede na sua decisão, seguindo mais a razão dos seus princípios do que os princípios do seu coração. No entanto, mais tarde, naquela tarde sombria de dezembro, depois de ser abandonado por Maria, é para os braços do pai que Pedro corre, chorando perdidamente, e é neles que se reencontram.
Enquanto sabe Pedro feliz, Afonso não recua na sua distância, mas perante o desgosto do filho, restitui-lhe «ali e para sempre a sua ternura inteira», numa ternura que recupera, em cada frase que lhe dirige, a necessidade de lhe chamar, uma e outra e outra vez, filho: «Pedro! Que sucedeu, filho?»; «Sossega, filho, que foi?»; «Que sabes tu, filho?»; «Agora desabafa, Pedro, conta-me tudo… Olha que nos não vemos há três anos, filho…»; «Sim, mais tarde, depois pensarás nisso, filho»…
Enquanto sabe Pedro feliz, Afonso não repõe o seu talher à mesa, mas, perante o enorme desgosto do filho, volta a beijá-lo na testa, «uma vez, outra vez, como se ele fosse ainda criança.» Esquecida a razão dos seus princípios, Afonso segue agora os princípios do seu coração. A porta de casa fechou-se para Pedro, mas não o coração de Afonso para o filho.