Vivemos uma época marcada por transformações profundas, onde as antigas certezas dão lugar a novas exigências. A educação, como sempre, encontra-se no centro desta mudança. A urgência em “examinar as habilidades do século XXI que os alunos precisam para a vida e o trabalho” e “determinar o propósito da estrutura de design de aprendizagem” não é apenas um desafio, mas uma responsabilidade inescapável. Yuval Noah Harari lembra-nos que “a única constante do século XXI será a mudança”, destacando que as escolas precisam de ensinar não apenas o que os alunos devem saber, mas, acima de tudo, como aprender. O foco já não reside no acúmulo de conhecimentos estáticos, mas na capacidade de adaptação, pensamento crítico e criatividade. Este apelo ecoa nas palavras de Edgar Morin, que sublinha a necessidade de “aprender a aprender” e de desenvolver uma consciência complexa do mundo.
As chamadas “soft skills”, como a empatia, a colaboração e a resiliência emocional, tornaram-se tão cruciais quanto as competências técnicas. Como afirma Ken Robinson, “a criatividade é tão importante quanto a literacia”, lembrando-nos de que o pensamento divergente e a capacidade de resolver problemas de forma inovadora são os pilares do sucesso no século XXI.
Além disso, as competências digitais e a literacia mediática surgem como ferramentas essenciais num mundo cada vez mais interconectado. Contudo, mais do que ensinar o uso da tecnologia, é imperativo formar cidadãos críticos, capazes de navegar a informação de forma ética e consciente. Paulo Freire já advertia para o perigo de uma educação bancária, enfatizando que o aluno deve ser um sujeito ativo no seu processo de aprendizagem, capaz de questionar e transformar a realidade.
O design de aprendizagem do século XXI não pode ser apenas uma estrutura organizacional. Deve ser um ato de criação com propósito, alinhado com valores humanos e sociais. Sugata Mitra, ao falar sobre a aprendizagem auto-organizada, defende que as crianças, quando colocadas no ambiente certo, são naturalmente capazes de aprender por si mesmas. O papel do educador é, portanto, o de um facilitador, alguém que orienta, inspira e cultiva a curiosidade.
A estrutura pedagógica precisa de integrar experiências reais e relevantes, conectadas ao mundo e às comunidades. Mais do que preparar alunos para o mercado de trabalho, a educação deve formar cidadãos globais, conscientes dos desafios ambientais, sociais e culturais do nosso tempo.
Se o século XXI nos desafia a reinventar o papel da educação, devemos abraçar este desafio com coragem e paixão. Como disse John Dewey, “a educação não é a preparação para a vida; a educação é a própria vida.” Cabe-nos, como educadores, não apenas ensinar, mas transformar, inspirar e cultivar as sementes de um futuro mais justo e sustentável.
Assim, ao examinar as habilidades do futuro e definir o propósito do design de aprendizagem, não esqueçamos que, mais do que conteúdos ou metodologias, estamos a formar pessoas. Pessoas que, com as ferramentas certas, podem mudar o mundo. E essa é, talvez, a maior missão da educação.
Referências Bibliográficas
- Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, 1968.
- Harari, Yuval Noah. 21 Lições para o Século XXI. Elsinore, 2018.
- Morin, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Cortez, 2000.
- Robinson, Ken. O Elemento: Como Encontrar o Seu Talento Pode Mudar a Sua Vida. Lua de Papel, 2010.
- Mitra, Sugata. The School in the Cloud: The Emerging Future of Learning. Corwin, 2019.
- Dewey, John. Democracy and Education. Macmillan, 1916.
Sandra Porto Ferreira