A solidão é uma realidade que assiste milhares de idosos em Portugal, sendo um problema mais premente nos distritos do interior. Os mais velhos vivem sozinhos, por vezes distantes do centro das aldeias ou das vilas, e em situação de vulnerabilidade.
São pais de filhos que emigraram ou que residem noutras localidades do país onde trabalham e estabeleceram as suas vidas. São Mulheres e Homens que não deixam as suas humildes habitações, com construções e climatização à moda antiga, sem qualquer eficiência energética. No inverno acendem-se as lareiras, usam-se os cobertores e as mantas e vestem-se os casacos no interior das suas casas.
Para aqueles idosos em que a saúde o permite, a agricultura doméstica e o cuidado dos animais são práticas diárias de ocupação, mantendo-se assim as velhas tradições presentes nas diversas estações do ano. Longe de tudo e de todos, estes cidadãos procedem às suas compras nos pequenos mercados da aldeia ou deslocam-se às vilas e cidades em determinados dias do mês, com recurso ao táxi, autocarro ou através de uma “boleia” de um familiar, vizinho ou amigo.
Os distribuidores ambulantes fazem chegar o pão e em algumas localidades o peixe e a carne, com tendência para acabar este serviço nas aldeias do interior.
É importante identificar as pessoas idosas que se encontram isoladas e criar programas de acompanhamento, que não passem de meras propagandas ou medidas sazonais.
Na edição de 2024 da Operação “Censos Sénior” a Guarda Nacional Republicana sinalizou 42.873 idosos que vivem sozinhos ou isolados em todo o país, destacando-se os distritos da Guarda (5477), de Vila Real (5340) e Viseu (3528), com maior número de casos. Congratulo a GNR pela operação realizada, integrando-se a mesma no programa Apoio 65 – Idosos em Segurança, com a realização de ações de patrulhamento e de sensibilização cujo principal objetivo visa alertar para comportamentos de autoproteção e promover o sentimento de segurança em todo o território nacional. Através dos “Censos Sénior” é possivel comprovar a existência de milhares de idosos em situação de “isolamento”, numa idade cuja solidão pode contribuir para potenciar ou agravar problemas de saúde. O Estado e as Autarquias, com o apoio das Instituições Sociais, têm o dever de combater esta realidade, com a implementação de projetos adaptados a cada território e necessidade geográfica. Acredito que as novas tecnologias podem ser uma mais-valia para atenuar e minimizar o impacto da falta de comunicação e do distanciamento social, mas nunca irão substituir a presença e a proximidade humana.
Está na moda falar do combate a desertificação do interior de Portugal, com a implementação de medidas de incentivo ao investimento nestes territórios, nomeadamente à habitação. Estes apoios são muito importantes, mas só fazem sentido se, em primeiro lugar, valorizarmos e apoiarmos as pessoas que nunca deixaram de permanecer e de investir nos territórios de baixa densidade. Os nossos idosos merecem mais dedicação e compromisso.
Michael Batista