No Museu Municipal Terras de Besteiros, em Tondela, foi inaugurada, na última sexta-feira, 13 de outubro, ao final da tarde, a exposição “Festa das Cruzes do Guardão”, que retrata aquele que é um dos eventos religiosos mais antigos e mais importantes do concelho.
A mostra é composta por vários painéis informativos que dão a conhecer a história de uma tradição secular, que envolve as paróquias do Guardão, Castelões, Santiago de Besteiros e de Campo de Besteiros. Os visitantes podem, ainda, descobrir mais sobre a Festa das Cruzes através da projeção de vídeos com imagens antigas e recentes do evento religioso, que são apresentados na sala de exposições temporárias e no auditório do museu.
O público pode, igualmente, apreciar três cruzes, uma sem qualquer ornamento, outra com os “frutos que a terra dá” e uma terceira enfeitada com flores artificiais feitas a partir do burel. São, também, apresentados objetos utilizados da decoração das cruzes, como ouro, silvas, laços e uma imagem da Nossa Senhora dos Milagres, que acompanha a procissão.
A exposição estará patente ao público no Museu Terras de Besteiros até ao dia 18 de novembro.
A Festa das Cruzes acontece há mais de 300 anos e junta as povoações do Guardão às de Castelões, Santiago de Besteiros e de Campo de Besteiros, povos que sobem à serra para cumprir “a promessa antiga” de agradecimento à Nossa Senhora dos Milagres pela sua ajuda na expulsão dos mouros. Com cruzes, engalanadas com grinaldas, motivos vegetais, como flores ou frutos e legumes da época, metais preciosos, como ouro, e pérolas, ladeadas por lanternas, os fiéis percorrem o mesmo itinerário ancestral, da Capela de São Bartolomeu até ao Guardão, ao som de ladainhas, para o abraço das suas cruzes com as da freguesia anfitriã, sob uma chuva de pétalas de flores.
Esta manifestação de fé realizava-se anualmente na quinta-feira da Ascensão (40 dias depois da Páscoa), mas depois da pandemia a festividade passou a decorrer no sábado seguinte a essa data. Em maio deste ano, o município de Tondela iniciou, junto da Direção Geral do Património Cultural, o processo de candidatura da Festa das Cruzes ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, numa ação que pretende defender, cuidar e preservar este evento religioso singular.
Na abertura da exposição, a presidente da Câmara, Carla Antunes Borges, disse que esta candidatura e a mostra agora inaugurada pretendem «não só dar nota daquilo que é um tesouro» que o município tem e que reconhece na Festa das Cruzes, mas também «sublinhar de uma forma muito intensa» e dizer de uma forma pública que o concelho se revê «nos valores que no passado fizeram com que estas comunidades se unissem».
«Este agradecimento que na altura foi feito, um agradecimento religioso, fez com que um conjunto de pessoas se juntassem e ao longo dos tempos mantivessem essa palavra honrada de agradecer naquilo que foi conquistado. A união das cruzes reflete isso mesmo, uma promessa de agradecimento, um agradecimento sentido, profundo que foi transportado de geração em geração e que chega até aos nossos dias», destacou a autarca.
O processo de candidatura da Festa das Cruzes ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial vai ser apresentado no próximo domingo, dia 22 de outubro, aos habitantes das quatro freguesias envolvidas na cerimónia religiosa.