Conheço o Jorge Marques vai para uns dez anos, dez intensos anos de edição literária de uma mão cheia de livros cativantes, sobre temas que nos tocam a Alma, como o contágio das Artes, a importância do Amor e do regresso às nossas Origens, o diálogo com a Natureza, e agora esta viagem a um Tempo sem Pressa.
Este novo livro de viagens entre o passado e o futuro, deste amigo e escritor Jorge Marques, foi apresentado recentemente no Museu Grão Vasco, cumprindo uma inteira fidelidade editorial às Edições esgotadas (Viseu). Sábio, que medita com outros sábios sem nome e se lembra das melhores memórias para deixar… o “gatilho ” para este livro foram seis meses de privação da escrita e da leitura por causa de um descolamento da retina; este tempo elástico é desenhado por essas memórias sensoriais de uma atitude face à vida, entre o passado e um futuro de ficções. Porque quase todos andamos com pressa, esta obra é um encontro com o tempo sem pressas, porque existe uma Mãe do Tempo que nos acolhe no seu regaço e nos conta histórias e memórias (o silêncio é a linguagem de Deus, tudo o mais é uma pobre tradução).
Esta obra singela, feita de viagens tranquilas e por vezes solitárias a uma América latina sentimental e histórica, trata-se também de um encontro entre o autor e o modo como vê a passagem do tempo, um tempo que já foi avassalador e urgente, determinativo e absoluto, mas que hoje se apresenta com outros contornos . Para isso, recorreu às suas memórias da sabedoria antiga dos povos do México e Peru. “Um tempo sem pressa” é uma homenagem a esses povos e aos estudiosos do Tempo, num romance que se devora página a página.
“Era uma filha de Pachamama, da Mãe Terra e do Tempo, que vinha ali como embaixadora ou noiva-ritual do meu casamento com a Natureza. Arrastava um vento que cheirava a Puya Raimondii, aquela planta dos Andes que só floresce uma vez em cada século. Ela é a Rainha dos Andes! Nesse aroma soa uma voz conhecida como A Voz Suave dos Andes! Era o som da Quena, a flauta de cana, um som que nos levanta no ar como de fôssemos um Homem-Pássaro! Já voando nesse ar que nos abraça e vem a fala da Zampina, a Flauta de Pã. Ela conta-nos toda a história de Pachamama, como se cada nota fosse uma palavra. Quando a história está quase a acabar, o Xamã Cayo começa aos gritos e só diz: Que bonito!!! Que bonito!!! Que bonito!!! Aponta para o céu e o que era? Um condor que sobrevoava aquele círculo onde se passava o ritual…”
Num discurso narrativo intimista e sábio, convidativo e sugestivo, o Jorge encanta-nos com essa sabedoria milenar que vem de povos que os europeus quase conduziram a uma extinção sangrenta e violenta, mas que felizmente ainda nos podem testemunhar quais os caminhos do tempo que conduz á felicidade e à paz. Obrigado Jorge por mais esta obra singela. Boas leituras.
Carlos Almeida