ARTIGO DE OPINIÃO: O valor e a desvalorização da natureza

15/08/2023 17:00

Julho foi o mês mais quente de sempre (e provavelmente será o mais fresco do resto das nossas vidas).

Quem quer proteger o meio ambiente não está somente preocupado com a questão do bem estar animal. A destruição de florestas e corpos hídricos impacta a vida vegetal e animal (abelhas, anfíbios, insetos, mamíferos,  peixes, aves). Atualmente, cerca de um milhão de espécies encontram-se em vias de extinção globalmente, 1677 a nível europeu, e 456 em Portugal). Ao sucumbirem devido à exploração intensiva, desenfreada e/ou ilegal, a qualidade das águas, solos e ares diminui, colocando em risco a capacidade agrícola e a segurança alimentar das populações. A poluição presente, junto com a consequente falta de acesso a necessidades básicas (alimentos disponíveis com regularidade e estabilidade de preços, acesso a água, medicação, entre outros). Note-se, por exemplo, que cerca de 70% de doenças virais emergentes oriundam do contacto entre animais e seres humanos, como o COVID-19, gripe suína, gripe das aves, doença da vaca louca, HIV, raiva, influenza (entre várias outras).

A inércia circular no combate às alterações climáticas e à luta pela preservação ambiental, apesar de ter tido grandes avanços desde os anos 1960, ainda está bastante presente nos dias de hoje, ainda não havendo legislação, fiscalização, imposição da lei e consequências para quem danifica o meio ambiente e seus ecossistemas.

A nível europeu, infelizmente constata-se que 81% dos habitats se encontram em mau estado. 18% do território europeu está incluindo nas zonas de proteção ambiental do programa Natura 2000 e ainda se está a tentar chegar aos 30% de território continental e marítimo protegido pelas metas da UE até 2030. Um relatório recente do Centro Europeu para a Prevenção de Doenças revelou que, com temperaturas mais quentes e maior incidência de inundações e cheias, o número de doenças e mortes relacionadas com picadas de mosquito na Europa irá aumentar.

Portugal é o 4° país na Europa e 17° no mundo com mais espécies em perigo de extinção, tendo o número de espécies em risco duplicado apenas nos últimos anos, totalizando 456 espécies em perigo de extinção, sendo as maiores razões a urbanização e exploração intensiva, sendo os locais mais afetados os corpos hídricos do interior do país menos de 80% dos quais considerados com condições mínimas ambientais. É reportada também a escassez de dados necessários à melhor compreensão do estado atual da conservação ambiental em Portugal. De acordo com o Sistema de Informações para a Europa sobre a Biodiversidade, o país divide-se em alguns tipos de ecossistemas: o florestal (46% da área territorial portuguesa e 44,2% do total de áreas protegidas), o agro sistema (37,7%, ocupando 36,5% das áreas protegidas no país), as áreas urbanas (5,8%), os corpos hídricos (1,08%) e charneca (9,5% do território nacional, cobrindo 16% das zonas protegidas).

Assim, apesar de se registarem alguns progressos na preservação de ecossistemas em Portugal, as informações existentes mostram que há ainda muito por fazer e tem-se registado uma diminuição da biodiversidade, sendo essencial o aumento de financiamento de programas de reabilitação e preservação de espécies, de oferta de trabalho na área, de sensibilização da população e de áreas naturais protegidas. Não é só uma questão ambientalista; é sim um problema que, negligenciado, afeta seriamente a qualidade de vida e sobrevivência das pessoas, dos animais e da natureza.

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