Luzes. Música. Ação. A cortina sobe. No centro do palco, os actores brilham. As vozes preenchem o teatro, os passos são precisos, os gestos têm alma. A plateia encanta-se. No final, aplausos. O público sai
emocionado, comentando como tudo pareceu perfeito. O que ninguém vê é o caminho até ali. Ninguém vê os ensaios em que as notas não saem certas. As noites em que o corpo dói, a voz falha e o cansaço quase vence. Ninguém vê os tropeços, os erros de marcação, as repetições exaustivas de uma cena até que o encenador finalmente diga: “Agora sim.” Fazer teatro musical é mais do que pisar um palco. É estudo. Estudo de voz, de corpo, de ritmo. É conhecer um personagem até que ele deixe de ser um texto e se torne carne, emoção, verdade. É dedicação. Dedicação nos dias bons, quando tudo flui, mas também nos dias maus, quando a insegurança aperta e a mente grita que talvez nunca fique bom o suficiente. É aprender a falhar. Porque falhar é inevitável e é ali, no erro, que se aprende o caminho certo. É tropeçando que se descobre como pisar as tábuas firmemente. E, acima de tudo, é talento e paixão. Porque sem paixão, a técnica é vazia. E sem talento, o estudo é apenas esforço sem alma. O teatro musical exige entrega total — coração, voz, corpo e mente unidos para criar algo que vá além do palco e toque quem assiste. Quando a cortina fecha e o público se vai embora, os actores sabem: o espetáculo terminou, mas a aprendizagem nunca acaba. Porque o teatro musical não é só brilho. É suor, entrega e sobretudo amor. E é isso que o faz tão mágico.
António Leal
Encenador