ARTIGO DE OPINIÃO: O negacionismo

06/10/2021 13:52

O negacionismo é um fenómeno como qualquer outro e ser-se negacionista é um direito que assiste a qualquer cidadão. Quando falamos da negação do défice, da qualidade de um texto, dos números do orçamento, negar estes factos não prejudica ninguém nem põe em causa o equilíbrio social. Digamos que essa atitude tanto faz, é inofensiva, inócua.

Mas quando o negacionismo cerceia a liberdade de outros ou põe em causa a segurança e a saúde de terceiros, manda a razão que o seu curso seja interrompido por quem de direito, de uma forma imediata, determinada e nada hesitante.

É o caso do negacionismo do covid-19.

Preocupa-me que, em Portugal, perante mais de um milhão de infectados e mais de 18.000 mortes, e diante da feliz redução do número de óbitos, mesmo nas idades mais avançadas, após a vacinação, persistam vozes que se incomodam perante o processo vacinal, neguem os seus efeitos e insultem quem segue as orientações das autoridades de saúde.

Não sendo fundamentalista, penso que não seria mau que quem se recusa a ser vacinado, se vier a ser infectado, pague as despesas do seu tratamento e da sua hospitalização. Brincar com o fogo tem custos e, conscientemente, adoptar comportamentos que, irresponsavelmente, possam influenciar a saúde dos outros, prejudicando-a, deve ter as suas penalizações. Não sejamos bonzinhos em exagero.

Pôr o SNS, todos nós, a suportar as despesas de quem é internado, em razão de uma doença evidente, cientificamente comprovada, que contrai e provocatoriamente nega, não me parecer ser socialmente justo nem moralmente recomendável.

Quem, livremente, e por consciência, adopta essa postura, apesar de avisado pelos números que não mentem, não tem o direito de gozar dos mesmos benefícios de quem segue à risca as orientações e corre o risco de, sem culpa, ser contagiado por quem faz vista grossa à evidência. 

Talvez não seja politicamente correcto, mas também é a correcção e a ortodoxia que faz o país não sair da cepa torta e dos últimos lugares da tabela classificativa de uma Europa que nos continua a encher os cofres de Euros, sem que se vejam resultados proporcionais aos movimentos financeiros efectuados.

Quem nega ostensivamente o vírus, se atreve a afirmar que se trata de negócio das farmacêuticas e dos laboratórios, não devia ter as isenções e benefícios que o SNS proporciona a quem faz tudo certinho e tem mais do que fazer do que, boçalmente, insultar a autoridade, dando um péssimo exemplo a quem se julga, talvez ingenuamente, protegido de poderes descomandados e discursos patológicos.

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