Malta, ouvi dizer que vem mais um para aqui hoje. A sério? Mais um? Como sabes? Ó pá, tenho as minhas fontes, Times New Roman e Calibri. Mas nós já estamos aqui apertados, já nem consigo esticar a lombada, era só o que faltava, mais um! Enfim, hoje toda a gente escreve, é no que dá. Deixa lá, há lugar para todos. Há, há, eu é que sei o que é ficar esquecido na prateleira. Pior estou eu, que desapareci do currículo. Então, mas estavas à espera de quê, com esse nome? Realmente, chamar-me Aparição, com tanto nome à escolha, estava-se mesmo a ver – o que não é igual a ver mesmo – que era sol de pouca dura. Eu cá, se fosse a ti, procurava bem no currículo do oculto, nunca se sabe. E tu, ó Lusíadas, não dizes nada? Eu? Eu já estou habituado a ficar ao canto, já nem me queixo, «tanta necessidade avorrecida»! Anda lá, queixas-te de quê? Passaste na Inquisição, estás sempre a fazer anos, e cada vez mais novo e bem conservado, que aqui na Biblioteca trazem-te nas palminhas – os louros bem platinados – com o mundo aos pés… Olha o Bocage, que os tinha bem maiores do que os teus, e não se segurou. Pois é, meu amigo, nem toda a gente tem a tua sorte – e ainda bem, que dispensamos naufrágios e prisões – mas a verdade é que os novos passam e tu ficas. Olha lá, sabes alguma coisa da Família Inglesa? Nunca mais os vi. Parece que a Kate está novamente grávida, ouvi qualquer coisa na secção de encadernação. Não é essa família, é a do Júlio Dinis. E tu achas que eu sei alguma coisa da família do Júlio Dinis? Se ainda fosse do Isidro… Xiu, estou a ouvir passos, já aí vem o novo. Vá, cheguem-se para lá, que o depósito legal, quando nasce, é para todos. Parece que se chama As minhas (con)ficções, tem poucas páginas; portanto, não terá peso no meio de nós. Ámen.
Elisabete Bárbara