ARTIGO DE OPINIÃO: Investir no comportamento

05/07/2024 18:30

Mais uma época desportiva acaba. Infelizmente não nos podemos orgulhar de tudo. Boas e más práticas aconteceram. 

Dar os parabéns a todos que acreditaram e acreditam no seu processo e têm evoluído no seu percurso. 

Têm ocorrido imensos torneios de crianças e em, quase, todos podemos afirmar que a diversão tem estado presente e a vivência desportiva feita com menos pressão. Mas é nestes escalões etários que temos de começar a ajudar os pais a lidarem com o facto de terem um filho “atleta” que vai estar sujeito a várias situações emocionais. Mas parabéns e desfrutem destes momentos com alegria.

Num jogo de entrega da taça de campeão fui testemunha de uma situação que nos deve no mínimo fazer refletir. A equipa de jovens quando recebeu e levantou a taça correu imediatamente para as bancadas, onde os seus pais e mães já os esperavam equipados com as camisolas de campeões. Não festejaram entre si e chegaram mesmo ao ponto de deixarem no meio do campo os seus treinadores, fisioterapeuta e diretor de braços cruzados a verem a “festa”, com um sorriso tímido. 

Os festejos deviam, primeiro, ocorrer dentro do campo e com aqueles que verdadeiramente ganharam o troféu e só depois partilharem essa alegria com quem tanto de si dá: os pais. Foi precisamente o contrário! E não é por acaso. Esta atitude impulsiva e inocente é resultado de uma vivência desportiva errada.

Os treinadores e diretores que ficaram para trás portaram-se de forma excelente e paciente. O oposto de muitos que vimos a correrem, nos finais dos jogos, para junto da equipa de arbitragem a reclamarem. Estes são os perdedores. Durante o jogo assumem-se como “árbitros” e não se focam na sua função.

Esta cena teatral tão comum em Portugal é, quase, sempre um passar de responsabilidade e de descomprometimento da equipa perante um resultado negativo.  Quando é um comportamento pontual temos de o aceitar. Um dia menos bom todos temos. Quando é um padrão… Nunca correm quando ganham?! Porque será? Os melhores não se desgastam com o que vai além do jogo. Do que controlam e de quem lideram. 

Temos de ser exigentes com todos os agentes desportivos e respeitar a modalidade em que estamos inseridos. Estar sempre a pôr em causa tudo em todos não é tratar bem a modalidade que nos apaixona e para muitos é também a sua profissão.  

Durante este período tem havido muitas ações de formação para treinadores. Nota-se que continua a não haver um investimento na atividade comportamental. Esta é que faz a diferença entre os excelentes treinadores e os outros. Os excelentes não se desgastam com situações de campo que não são da sua inteira responsabilidade. Não levam apito na boca para o jogo. Focam-se no jogo. 

Vítor Santos

Embaixador da “Ética no Desporto”

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