A dislipidemia é uma das doenças crónicas com maior prevalência em Portugal. Saber o que é e o que podemos fazer é determinante para um estilo de vida saudável.
O que é a Dislipidemia?
A dislipidemia carateriza-se pela presença de níveis anormais de colesterol no sangue, podendo ocorrer de 3 formas: pelo aumento dos níveis do colesterol LDL (lipoproteínas de baixa densidade) e/ou dos triglicerídeos; ou pela diminuição dos níveis do colesterol HDL (lipoproteínas de alta densidade)1.
As diferenças entre o colesterol LDL (“colesterol mau”) e o colesterol HDL é que o primeiro, quando em elevadas quantidades, é o que se deposita nas paredes das artérias, formando placas ateroscleróticas que são compostas por gordura e tecido fibroso (ateromas) 1. A deposição da placa aterosclerótica aumenta a rigidez dos vasos e diminui o seu calibre, pelo que o coração necessita de realizar um maior esforço para que o sangue chegue até aos tecidos e geralmente as artérias mais afetadas pelo fenómeno de aterosclerose são as artérias coronárias (que irrigam o coração), as artérias carótidas e cerebrais (que irrigam o cérebro) e as artérias dos membros inferiores1.
Contrariamente, o colesterol HDL (“colesterol bom”) tem como função principal a remoção do colesterol LDL da circulação e das paredes das artérias, reduzindo a progressão da doença aterosclerótica1.
Como é que eu sei se tenho Dislipidemia?
A dislipidemia pode ser classificada como Primária ou Secundária. A dislipidemia primária é de origem genética e, portanto, hereditária1,2. A dislipidemia secundária pode resultar de fatores de risco relacionados com o estilo de vida (obesidade, tabagismo, alcoolismo e/ou sedentarismo), da existência de outras doenças (diabetes mellitus tipo 2, doença renal crónica, hipotiroidismo, obesidade ou síndrome nefrótico) ou estar associada ao consumo de determinados fármacos1,2.
A vigilância dos valores de colesterol deve ser realizada por análises periódicas ao sangue, de acordo com a idade, género, história clínica e antecedentes familiares de doenças cardiovasculares e/ou dislipidemias genéticas e é indispensável a avaliação pelo seu médico1.
Nas recomendações europeias de 2019, para as pessoas saudáveis, com baixo risco para doenças cardiovasculares, estão recomendados os seguintes valores 1:
- Colesterol total – inferior a 190 mg/dl
- Colesterol LDL – inferior a 116 mg/dl
- Colesterol HDL – superior a 40 mg/dl
- Triglicéridos – inferior a 150 mg/dl
Como posso controlar os níveis de colesterol?
Em primeiro lugar é essencial a adoção de um estilo de vida saudável através de uma dieta variada e cuidada, evicção do consumo de tabaco, otimização do peso corporal (IMC ≤ 25 Kg/m2) e atividade física (cerca de 30-60 minutos de atividade física moderamente intensa na maior parte dos dias) 3. Com a combinação destas medidas é expectável uma redução de cerca de 10% dos valores de colesterol1.
Relativamente ao tratamento farmacológico, em que as estatinas (por exemplo, sinvastatina) são o tratamento de primeira linha, este deve ser reservado para doentes de alto e muito alto risco e encontra-se sempre dependente de uma avaliação personalizada de cada doente1.
Devo evitar o consumo de alguns alimentos?
No que toca à alimentação, o consumo de grandes quantidades degordura saturada e trans é o principal fator responsável pelo aumento dos níveis de colesterol pelo que é importante reduzir o consumo de3:
- natas e maioneses e preferir molhos à base de iogurte;
- leite e iogurtes gordos;
- gorduras, em especial as sólidas e as sobreaquecidas, e dar preferência ao consumo de azeite;
- alimentos pré-confecionados (ricos em manteiga e margarina)
- carne (como bovinos, borrego e cabrito) e derivados (chouriço, farinheira, morcela e produtos semelhantes).
Associadamente é importante reforçar o consumo de fibras e gorduras insaturadas, pois são importantes elementos auxiliares no controlo de apetite e diminuição da absorção intestinal de colesterol3. Desta forma, deve ser privilegiado o consumo de 3:
- alimentos com elevado teor em fibras (cereais integrais, vegetais e frutos secos);
- peixe gordo (sardinha, sarda, cavala, salmão e atum);
- legumes (lentilhas, feijão, favas, ervilhas, grão de bico e soja);
- fruta (2 a 3 peças por dia).
Um dos mitos mais famosos relativamente à alimentação em pessoas com dislipidemia prende-se com a associação entre o consumo de ovos e o aumento dos níveis de colesterol3. Atualmente, sabe-se que o consumo de alimentos ricos em colesterol, como ovos e marisco, tem pouca influência no colesterol sérico e estabelece-se que o consumo de até 1 ovo por dia e o consumo equilibrado de marisco não aumenta o risco de doença cardiovascular 3.
Como se diz habitualmente, o conhecimento não ocupa lugar. Ter conhecimento sobre saúde, em particular sobre dislipidemia, pode ajudar-nos pessoalmente e coletivamente a construir uma sociedade mais saudável e com maior qualidade de vida.
Referências bibliográficas:
2) Dislipidemia | Fundação Portuguesa Cardiologia
3) Dislipidemias: Caracterização e Tratamento Nutricional |Associação Portuguesa de Nutrição
[English version]
Health (i)Literacy: Dyslipidaemia
Dyslipidaemia is one of the most prevalent chronic diseases in Portugal. Knowing what it is and what can be done about it is crucial for maintaining a healthy lifestyle.
What is Dyslipidaemia?
Dyslipidaemia is characterised by abnormal levels of cholesterol in the blood, which can occur in three forms: an increase in LDL cholesterol (low-density lipoproteins) and/or triglycerides, or a decrease in HDL cholesterol (high-density lipoproteins) 1.
The difference between LDL cholesterol (“bad cholesterol”) and HDL cholesterol is that the first onde, when presented in high quantities, deposits on the walls of the arteries, forming atherosclerotic plaques composed of fat and fibrous tissue (atheromas) 1. The deposition of atherosclerotic plaques increases vessel stiffness and decreases their diameter, causing the heart to work harder to ensure blood reaches the tissues. The arteries most commonly affected by atherosclerosis are the coronary arteries (which supply the heart), the carotid and cerebral arteries (which supply the brain), and the arteries of the lower limbs1.
In opposition, HDL cholesterol (“good cholesterol”) has the primary function of removing LDL cholesterol from circulation and from the artery walls, thus reducing the progression of atherosclerotic disease1.
How do I know if I have Dyslipidaemia?
Dyslipidaemia can be classified as Primary or Secondary. Primary dyslipidaemia is genetic and therefore hereditary. Secondary dyslipidaemia can result from lifestyle-related risk factors (obesity, smoking, alcoholism, and/or physical inactivity), the presence of other diseases (type 2 diabetes, chronic kidney disease, hypothyroidism, obesity, or nephrotic syndrome), or be associated with the use of certain medications1,2.
Monitoring cholesterol levels should be done through regular blood tests, based on age, gender, medical history, and family history of cardiovascular diseases and/or genetic dyslipidaemias, with evaluation by your doctor being essential1.
According to the 2019 European guidelines, for healthy individuals with a low risk of cardiovascular diseases, the following cholesterol levels are recommended 1:
- Total cholesterol – below 190 mg/dl
- LDL cholesterol – below 116 mg/dl
- HDL cholesterol – above 40 mg/dl
- Triglycerides – below 150 mg/dl
How can I control cholesterol levels?
Firstly, adopting a healthy lifestyle is essential through a varied and balanced diet, avoiding tobacco consumption, maintaining an optimal body weight (BMI ≤ 25 Kg/m²), and engaging in physical activity (about 30–60 minutes of moderately intense physical activity on most days) 3. By combining these measures, a reduction of about 10% in cholesterol levels can be expected 1.
As for pharmacological treatment, where statins (such as simvastatin) are the first-line treatment, this should be reserved for high and very high-risk patients and is always dependent on a personalised assessment of each patient 1.
Should I avoid consuming certain foods?
When it comes to diet, consuming large quantities of saturated and trans fats is the main factor responsible for increasing cholesterol levels, so it is important to reduce the intake of 3:
- Creams and mayonnaise, and opt for yoghurt-based sauces instead;
- Full-fat milk and yoghurts;
- Fats, especially solid and overheated fats, and prefer the use of olive oil;
- Pre-prepared foods (rich in butter and margarine);
- Meat (such as beef, lamb, and goat) and derivatives (sausages, black pudding, and similar products).
Additionally, it is important to increase the intake of fibre and unsaturated fats, as they are key elements in controlling appetite and reducing the intestinal absorption of cholesterol. Therefore, the consumption of the following should be prioritised 3:
- Foods high in fibre (whole grains, vegetables, and nuts);
- Fatty fish (sardines, mackerel, herring, salmon, and tuna);
- Legumes (lentils, beans, broad beans, peas, chickpeas, and soybeans);
- Fruit (2 to 3 pieces per day).
One of the most well-known myths regarding diet for individuals with dyslipidaemia is the association between egg consumption and increased cholesterol levels 3. It is now known that the consumption of cholesterol-rich foods, such as eggs and shellfish, has little impact on blood cholesterol levels. It is established that consuming up to one egg per day and moderate consumption of shellfish does not increase the risk of cardiovascular disease 3.
As the saying goes, knowledge is power. Understanding health, particularly dyslipidaemia, can help us, both individually and collectively, build a healthier society with a better quality of life.
Bibliography
2) Dislipidemia | Fundação Portuguesa Cardiologia
3) Dislipidemias: Caracterização e Tratamento Nutricional |Associação Portuguesa de Nutrição