O espaço das seleções distritais são sempre um momento marcante para todos os jovens atletas. Não é garantia de nada, mas mais um indicador do desenvolvimento desportivo do atleta. A mudança de contexto desportivo é muito importante. Muitos jovens vão ter menos sucesso do que estão habituados a ter nos seus clubes. E vice-versa. A forma como lidam com os resultados é sempre um fator a ter em conta na formação.
Participei nos Jogos Juvenis Nacionais (atualmente Torneio Lopes da Silva) em representação da seleção distrital de Viseu, que se realizou em Santarém. É um momento que fica registado pelas vivências desportivas, sociais e culturais. Os tempos são muito diferentes, mas a força do desporto é a mesma. Desta equipa devo ter sido o primeiro a ser descartado como futuro jogador de futebol. João Manuel e Marito foram os que alcançaram o profissionalismo. O jovem Paulo Paraty foi um dos árbitros.
Não tínhamos os pais por perto. Não temos fotos para recordar. Os campos eram pelados. A amizade perdura e ainda hoje recordamos histórias desse tempo. O espírito de grupo daqueles meninos “sozinhos” no Ribatejo já era de atletas. Superação e resiliência perante tantas dificuldades.
Hoje os jovens têm melhores condições e um apoio técnico e parental muito maior. Para que o jovem atleta possa progredir e desenvolver-se para chegar ao alto rendimento, é fundamental que este estabeleça uma boa relação quer com os treinadores quer com os pais. No entanto é essencial que treinadores e pais não ocupem campos e funções uns dos outros.
As duas relações, com treinadores e com pais, que convergem no jogador, são fundamentalmente diferentes, na sua função e na sua natureza e o jogador precisa que ambas estejam em harmonia e equilíbrio. Completam-se.
A função parental é muito fazer o seu filho desenvolver-se e autonomizar-se. No espaço seleção o apoio emocional e o conforto são fundamentais. O grau de dificuldade pode ser maior e traz mais insucesso. Ter presente, também, que os sucessos excecionais nestas idades não são garantia de sucesso a longo prazo, e que, portanto, essas crianças e jovens venham a ser campeões na idade adulta.
Os técnicos das seleções das associações já desenvolvem atitudes saudáveis perante a vitória e a derrota, garantindo que estas são encaradas como “faces distintas da mesma moeda”, fundamentalmente através do recurso a duas mensagens: “ganhar não é tudo nem a única coisa” e “perder não constitui obrigatoriamente um fracasso”.
As seleções contribuem para o desenvolvimento global e harmonioso dos jovens, nas facetas física, intelectual, emocional e social, assim como para a sua formação cívica. Não podem ser só um espaço de deteção de talento ou potencial seja o que quer que isto queira dizer. Não existe um instrumento que meça talento/potencial. Existem muitos jovens em que se prognosticou a excelência desportiva, e que, por motivos vários, não o confirmaram no escalão superior.
A todos os jovens que integram as seleções e seus parentes fica a dica: divirtam-se. Desfrutem de todos os momentos desportivos e sociais. São momentos que podem e devem ficar para a vossa história como uma excelente e rica memória.