Um dos textos em que se torna evidente o recurso à forma como reforço do conteúdo – ou, melhor dizendo, em que a própria forma é conteúdo – é O dos castelos, poema com que Pessoa abre a Mensagem. Se já vimos, relativamente ao texto Mar Português, que a construção sintática e a disposição gráfica reforçam a ideia de abismo, vemos agora o efeito da disposição das estrofes e do respetivo número de versos na ideia de antropomorfização de Portugal, assim formal e visualmente reforçada. Na verdade, se a metáfora do corpo humano está ao serviço da localização geográfica do país, também é verdade que esse corpo jacente, apoiado nos cotovelos, nos é apresentado de forma gradual, da esquerda para a direita, até chegar ao rosto ocidental.
Se esta apresentação ou descrição de Portugal vem recuperar a imagem retangular que desenha nos mapas, também as estrofes vão desenhando, através do número variável e decrescente de versos, a imagem de um corpo até chegar à cabeça, não sendo inocente o facto de a última estrofe ser constituída por um monóstico.
Se virarmos o texto ao contrário, isto é, se colocarmos o último verso – «O rosto com que fita é Portugal» – a iniciar o poema, mais nítida se torna a imagem de um corpo humano, agora já não deitado, mas erguido. Assim, à representação horizontal do corpo associa-se a representação vertical da liderança: cabe a Portugal encabeçar o futuro da Europa.