ARTIGO DE OPINIÃO: Construção

10/02/2023 18:30

Vivemos numa sociedade democrática em que cada individuo é único e deve ser respeitado pela sua forma de pensar. De alguns anos para cá, a escola foi ganhando uma posição privilegiada fazendo a ponte entre o aluno enquanto indivíduo e a realidade social envolvente, contribuindo para que essa ligação seja sempre dinâmica, reflexiva e crítica. Cada vez mais a escola é um local de encontro, é um local de partilha, é um local onde todos os dias milhares de professores e outros profissionais de educação dão a sua contribuição para que se estabeleça essa relação e que as aprendizagens dos alunos em todos os seus âmbitos possam ter sucesso.

Neste momento de grande controvérsia e agitação, é impossível para mim não fazer uma breve reflexão sobre a profissão docente. Ao longo dos vinte e quatro anos em que leciono como professora na área das Artes Visuais tive sempre como objetivo, para além da transmissão de conteúdos e programas, despertar e desenvolver nos alunos o gosto pela arte, promovendo não só o desenvolvimento da sensibilidade estética, como o pensamento crítico. Sempre acreditei que com a minha persistência e com a minha vontade, que muitas vezes ultrapassaram as quatro paredes da sala, estive a promover o crescimento de pessoas conscientes, ativas, dinâmicas nas suas opiniões, contribuindo para a construção de uma sociedade crítica, justa e solidária. Eu e os meus colegas de profissão, sempre encetamos todos os esforços para que os alunos pudessem adquirir não só os conhecimentos inerentes aos conteúdos programáticos, mas também todos os outros que estão para além das matérias e que têm a ver com os valores e com as características humanistas de cada um, encorajando-os a lutarem por um futuro melhor, mas também incentivando-os a defenderem as suas opiniões, contribuindo para a sua construção enquanto pessoas.

Por esta altura, já muito foi dito e escrito sobre as questões de fundo que estão na origem desta nossa luta. Não será difícil de compreender o poder avassalador da instabilidade na vida de um professor: a instabilidade da colocação, a mudança para longe da família, a estagnação em termos de carreira, a desvalorização… por momentos parece que me habituei a esta constante desvalorização e até talvez tenha sido ingénua ao pensar que alguma coisa poderia mudar. Mas nada mudou e se nos conformarmos, não reivindicando pelo que temos direito, aceitando o que nos querem impor e não lutarmos por aquilo que acreditamos, que exemplo seremos para os nossos alunos? 

Que professora serei se não lutar por aquilo que considero justo?

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