ARTIGO DE OPINIÃO – Análises e exames de rotina: em que situações deve fazer?

01/03/2025 18:30

 Sempre ouviu dizer que “prevenir é o melhor remédio” e, por isso, com alguma frequência, agenda uma consulta com o seu Médico de Família para lhe pedir a prescrição de análises e exames de rotina, ou o famoso “check-up”. Mas deve fazê-lo? 

A prevenção de doenças é uma componente estrutural dos Cuidados de Saúde Primários, da mesma forma que a prevenção de danos associados a exames e tratamentos desnecessários é dever dos Médicos de Família. Assim sendo, na ausência de sintomas e fatores de risco, os exames de rotina não são recomendados e podem acusar mais danos do que trazer benefícios. 

Entre os danos associados a análises de rotina destacam-se: 

  • Falsa sensação de segurança, por resultados falsos negativos, ou preocupação desnecessária advinda de resultados falsos positivos, motivando testes adicionais e intervenções médicas desnecessárias. 
  • Risco de diagnóstico de condições benignas e sem significado clínico (sobrediagnóstico) que culmina com stress psicológico e impele a realização testes de diagnóstico, medicação e tratamentos desnecessários. 
  • Custos desnecessários para o sistema de saúde, já que os recursos financeiros e de tempo utilizados para prescrever e realizar exames a pessoas saudáveis poderiam ser aplicados em pessoas com patologias conhecidas ou em estudo. 

Não obstante, é essencial considerar contextos específicos em que exames de rotina estão indicados, nomeadamente: 

  • Deteção precoce em grupos de risco, por exemplo rastreio do cancro da mama em mulheres acima dos 45 anos de idade, avaliação dos níveis de colesterol em pessoas com história familiar ou pessoal de doenças cardiovasculares, entre outros. 
  • Acompanhamento de condições clínicas pré-existentes. 
  • Investigação de sintomas e sinais clínicos que surjam de novo. 

Concluímos assim que as análises e os exames de saúde são ferramentas extremamente valiosas quando realizados a pessoas que comprovadamente beneficiam deles. 

A promoção de saúde e prevenção de doenças deve basear-se em intervenções com benefício comprovado: adoção de hábitos de vida saudáveis (alimentação equilibrada, prática de exercício físico regular…), vacinação, controlo de fatores de risco e rastreios direcionados a populações específicas. Prescrever exames indiscriminadamente não substitui essas medidas e pode desviar o foco de práticas realmente eficazes. 

Por isso, da próxima vez que pensar em agendar um check-up, converse com o seu Médico de Família e confirme se terá benefício em realizá-lo. 

Valéria Garcia

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