Viseu, uma cidade de raízes históricas e culturais profundas, orgulha-se da sua beleza natural e do rico património ambiental que a circunda. Contudo, essa riqueza está em risco devido a uma lacuna preocupante: a falta de estudos e documentação sobre a qualidade da água, do solo e da biodiversidade local. Esta ausência não só compromete a sustentabilidade ambiental, como também dificulta a criação de políticas públicas informadas e eficazes.
A qualidade da água e do solo é vital para o bem-estar da população e para a sustentabilidade das atividades económicas, como a agricultura e o turismo rural, atividades importantes na região. No entanto, não há informações consistentes e atualizadas que permitam compreender o real estado destes recursos, muitos dos quais poluídos por descargas de empresas há anos, sem qualquer intervenção para a sua fiscalização ou preservação. Sem dados, é impossível diagnosticar problemas, monitorizar mudanças ou planear intervenções.
No que toca à biodiversidade, Viseu insere-se numa área com um potencial ecológico significativo, mas a falta de levantamento detalhado das espécies presentes e das pressões que enfrentam deixa-nos às escuras quanto à saúde dos ecossistemas locais. A crescente urbanização, os incêndios florestais, os eucaliptais e as alterações climáticas representam ameaças claras, mas são ignoradas ou subestimadas devido à escassez de estudos científicos que fundamentem decisões políticas.
A responsabilidade de proteger e monitorizar os recursos naturais recai, em grande parte, sobre a Câmara Municipal, que tem o poder de investir em estudos, parcerias académicas e projetos de educação ambiental. Porém, há uma resistência visível em priorizar esta área, seja por falta de visão, seja por uma abordagem excessivamente focada em outros setores.
A ausência de planos robustos e transparentes levanta questões sobre a vontade política em tratar o ambiente como uma prioridade estratégica.
Enquanto outros países têm avançado com iniciativas de monitorização ambiental e projetos comunitários para proteger a biodiversidade, Portugal (e Viseu) parece ficar para trás, deixando escapar oportunidades de desenvolvimento sustentável e de valorização do território.
Investir em estudos ambientais é uma oportunidade, não um fardo. Conhecer a qualidade da água e do solo pode fomentar uma agricultura mais eficiente e saudável, atrair financiamento para projetos de reabilitação ecológica e consolidar Viseu como um destino turístico sustentável. Documentar e proteger a biodiversidade local pode ser um trunfo para a educação ambiental, aumentando o orgulho da comunidade no seu património natural.
A resistência atual é não só frustrante, mas também um risco para o futuro. Sem informação, estamos a gerir o ambiente “às cegas”, comprometendo o legado que deixaremos às próximas gerações.
Urge que a Câmara Municipal mude de atitude e abrace a importância de conhecer e proteger os recursos naturais de Viseu. Projetos de monitorização da qualidade ambiental e da biodiversidade devem ser tratados como investimentos indispensáveis e estratégicos.
Além disso, é essencial fomentar uma participação ativa da comunidade, envolvendo escolas, associações locais e investigadores para construir um futuro mais sustentável e informado.
A falta de estudos não é apenas um problema técnico; é um reflexo das prioridades políticas. Chegou a hora de Viseu assumir um compromisso real com o ambiente, pois dele depende a qualidade de vida de todos os seus cidadãos.
Carolina Pia