ARTIGO DE OPINIÃO: A falta de mão de obra e o absentismo no setor social

31/07/2024 18:30

O fenómeno da falta de mão de obra em Portugal também afeta o setor social, nomeadamente nas respostas sociais que exigem turnos em funcionamento 24 horas por dia e nos 365 dias do ano.

Esta área é considerada, por muitos, como pouco atrativa, atendendo às exigências dos cuidados, à organização por turnos e pela necessidade de trabalho ao fim de semana, com a agravante dos salários que, na sua globalidade, não são superiores ao ordenado mínimo nacional. Verifica-se também que os profissionais mais antigos sentem uma enorme injustiça salarial, considerando que recebem um pouco mais do que um recém admitido no serviço, facto que contribui para a desmotivação laboral.

Esta realidade é transversal às Instituições Sociais e é um motivo de preocupação para os seus responsáveis. Simultaneamente à falta de mão de obra, esta área depara-se também com as sucessivas faltas ao trabalho e/ou com frequentes baixas, que prejudicam o normal funcionamento das estruturas que, inevitavelmente, necessitam de recursos humanos para a boa prestação dos seus serviços. 

As principais causas do absentismo são as questões familiares, de saúde ou até mesmo motivos psicológicos e emocionais que afetam o colaborador na hora de ir trabalhar. As faltas para cuidar dos filhos continuam também a ser um dos principais motivos de ausência, ficando esta missão, quase sempre, ao encargo das mães, salientando-se que as mulheres representam uma percentagem muito significativa nos quadros de pessoal das Instituições Sociais. É uma pena e injusto que uma grande maioria dos homens não assuma ou divida este papel com as mulheres.

É verdade que trabalhar numa Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas, numa Unidade de Cuidados Continuados, num Lar Residencial, Lar de Apoio, numa Residência de Autonomização e Inclusão não está ao alcance de qualquer profissional. É uma atividade muito gratificante, mas exigente ao nível físico e psicológico. Esta realidade laboral exige colaboradores predispostos à realização de formação contínua, capazes de melhorar as suas práticas diárias, com espírito e missão de zelar por aqueles que mais precisam e se encontra em situação de maior vulnerabilidade.

As Instituições Sociais têm cada vez mais a necessidade de constituir equipas multidisciplinares, onde constam pessoas com altas e baixas qualificações escolares, cujo equilíbrio é muito importante para a qualidade de vida daqueles que usufruem das respostas sociais.

Para combater a falta de mão de obra e/ou do absentismo neste setor é necessário que as Instituições sejam capazes de implementar estratégias motivadoras e de bem-estar laboral e que o Estado promova medidas/incentivos que estimulem as organizações a darem melhores condições de trabalho para quem ingresse nesta área. Devem surgir mais cursos profissionais para jovens e adultos, com planos de formação adaptados às necessidades das Estruturas Sociais e o Estado deve premiar as Instituições que apostam na qualidade dos seus recursos humanos.

As pessoas não são máquinas, nem as máquinas conseguem cuidar das pessoas. As Instituições Socias não são fábricas, precisam de bons profissionais que queiram e saibam cuidar de quem mais necessita. 

Michael Batista

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