Não falo dos esquecidos, as broinhas, biscoitos típicos da Beira Baixa, os da D. Emília, bons de comer.
Refiro-me à amostra de um ser vivo, que cada vez mais prolifera e pintalga a paisagem humana como espécie invasora.
Então, vamos lá.
A memória, quando é azeitada, é uma virtude.
Avinagrada é um defeito velhaco.
Há os que a tendo bem temperada, a cultivam, com o húmus da honradez, e os que, não sabendo o que ela é, ou a tendo azedada, a alimentam com os detritos da sua má consciência.
Para fazer parte deste grupelho, não é condição ser-se de má índole ou de fraca safra, mas tal requisito sempre ajuda, refinando-a.
Para os pelintras de valores, para os desprovidos de princípios, a memória ganha força e fulgor com a necessidade e a precisão. As falas mansas, os sorrisos falsos ganham volume e escalam montanhas até que o pedido obtenha satisfação e o obstáculo seja removido.
A carência acciona a memória, que, no momento, é pródiga e fértil, e se faz um canteiro de sorrisos.
Às vezes, o descaramento é tanto, que não há comedimento nos fazeres para seduzir, manipular e agradar.
A falta de memória acomete frequentemente os mais idosos, mas dela não se livram os mais jovens. Neste caso, não é doença, nem condição, é falta de carácter, vício de personalidade, vilanagem de costumes.
Não é raro que venha acompanhada de laivos de raiva e ressentimentos adormecidos.
Nestas situações, costuma atacar mais quem nunca nada teve, e agora julgando tudo possuir, confunde poder com razão, baralha reconhecimento e ingratidão.
Reconheço ser muita confusão para mentes tão tortas, muito selectivas no saber e no conhecimento.
Os desmemoriados normalmente revelam-se no verniz, uma camada fina que estala ao safanão mais agressivo. Como na sua essência não são vernáculos, não têm escora que sustenha o peso da mentira e o arrasto da capa que vestem.
São a borra do pote.
Desmascarados, tropeçam em vozes e gritaria, com tiques da etiqueta que nunca tiveram, e que não absorveram, nem interiorizaram.
Têm problemas de comportamento, e calcorreiam caminhos lodosos, perdidos nas sombras da sua desfaçatez.
A verdade é que é gente que acaba sempre por incomodar, mas, no fundo, não vale uma singela consumição do nosso tempo.
E é o tempo que vai dizer aos esquecidos o tempo dos remorsos, e os vai crucificar nas tábuas da desonra.
Se houver tempo…
Se dessem comigo, não o haveria, porque não sou de esquecer, nem perdoar, mormente, quando a falta de memória é recorrente, grosseira e boçal.
Por pudor e por respeito aos que não têm nada a ver com esta reflexão, e a mim próprio, dispenso-me de dizer o que verdadeiramente penso destes espécimes, que não são tão raros quanto isso.
Andam tapados, maquilhados, plastificados, mascarados.
Vem tudo isto a propósito da falta de lembrança que toca a tantos políticos jovens, na flor da idade.
Vem tudo isto a propósito do nosso mundo político, dos seus actores, presentes e idos, que fazem duma causa nobre uma chega de bois, um carrossel de esquecidos.
Que Deus lhes perdoe, porque eu não tenho arcaboiço, já nem vontade, para tal indulgência.
















