ARTIGO DE OPINIÃO: Natal, outra vez!

17/12/2025 18:14

Sento-me. Depois de semanas de muito trabalho, aguardo, ansiosamente, uns dias de descanso!

Natal, na província neva, soam-me distantes estas palavras de Pessoa.

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Sinto na memória uma nostalgia dolente, triste até! Lembro a minha mãe, o nosso humilde presépio e o pinheirinho de Natal. O meu irmão e eu de cócoras a enfeitá-lo com pedacinhos de algodão branquinho, a fingir a neve em flocos, caída de um céu mais interior do que verdadeiro. Muitas vezes, não nevava, só nos nossos corações ansiosos. Éramos os três. O pai distante na vida e no espaço. Talvez sozinho.

Havia uma magia no ar. Uma magia que nunca foi muito alegre, nem demasiado triste. Uma mistura de mágoa e de esperança. Talvez no ano que vem…

Essa paisagem, vista detrás da vidraça da minha memória de menina, perdurou e entra de mansinho nestes dias que se aproximam, dias não tristes, dias não alegres, uma mistura de mágoa e de esperança. Em cada ano renovadas.

Continuo a tirar das caixas de cartão os meus inúmeros presépios. Os meus filhos trouxeram verdura para eu fazer os arranjos de Natal. Sempre. Como gosto de os fazer. Simples. Espalho-os pela casa. Penduro-os na porta da entrada. Há um clima de festa.

Ponho a mesa, com a tolha de xadrez, vermelha, branca e dourada, acendo as velas, disponho pratinhos com figos secos, avelãs, nozes e bombons. Faço as rabanadas para que a canela da infância volte às minhas narinas e com ela as mãos de minha mãe. Faço a sopa de bacalhau que fumega e embacia-me os óculos. Não sei se choro ou disfarço.

Natal! Na província da minha infância, continua a nevar, agora que me lembro dessa neve fininha que caía sobre os caminhos que levavam à igreja velha, na noite de Consoada. No interior da igreja, as orações e os cânticos ao Menino continuam a ecoar. Cá dentro. Bem cá dentro.

Boas festas, dizem-me os alunos. Este ano em várias línguas. Muitos não consoarão com as famílias que estão longe, muito longe. Hoje, senti-os tristes, mesmo na alegria de um cântico de Natal universal. Um misto de tristeza e de esperança. Talvez no ano que vem…

Todos tão sós, afinal, desse o início dos tempos. Desde que há Natal e a saudade se mistura com as fitas douradas dos presentes, quando há presentes. Desde que há Natal e cada um mergulha em si à espera do Salvador!

Talvez para o ano que vem…

Ana Albuquerque

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