ARTIGO DE OPINIÃO: 𝙄𝙣 𝙈𝙚𝙢𝙤𝙧𝙞𝙖𝙡

12/11/2025 18:14

No dia 16 de novembro de 1922, Azinhaga do Ribatejo viu nascer José Saramago. Eu vim a conhecê-lo em 1986, ano em que entrei na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e em que li, pela primeira vez, o Memorial do Convento, já na sua 16.ª edição.

Na altura, os meus 17 anos não foram capazes de descobrir o tesouro que tinha nas mãos e, com toda a honestidade, não gostei. Nem sempre as primeiras impressões têm razão. Eu não sabia ainda o suficiente para gostar. Depois, também eu fui aprendendo a ver por dentro do que estava à vista, e tornei-me – eu, que sempre fui leitora – leitora de Saramago. 

No dia 18 de junho de 2010, a sua morte veio ao mundo. Ouvi a notícia na rádio, ia eu a caminho da Guarda buscar exames nacionais do 12.º ano para corrigir, e lembro-me da tristeza que senti por pensar que, da próxima vez em que eu trabalhasse os seus textos em sala da aula, Saramago já estaria mais próximo de Camões ou de Pessoa do que de nós, que a morte não liga a datas e a distância é a mesma. 

A minha terceira memória de Saramago prende-se novamente com o Memorial do Convento e com uma das primeiras vezes em que o li em sala de aula com os meus alunos, que também tinham 17 anos e que não podiam ser, como eu tinha sido, insensíveis ao tesouro que agora tinham nas mãos. Eu já sabia o suficiente para ensinar a gostar. Quando, na sala em suspenso, eu li «Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.», todos os olhares se iluminaram, e o da Cláudia humedeceu-se, «Ó professora, isto é tão bonito!».

Elisabete Bárbara

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