ARTIGO DE OPINIÃO: Uma lei justa

15/10/2021 18:00

As companhias de seguros, a muito breve trecho, irão ser obrigadas a aceitar doentes com patologias oncológicas, hepatite C, diabéticos e VIH, já recuperados ou mesmo estabilizados.

Presumo que só após resistências e argumentos vários, trazidos à colação, no silêncio dos gabinetes.

Estranhamente, foi necessário quase meio século de democracia para que os poderes políticos, todos, inscrevessem na sua agenda de prioridades aquilo que entrava pelos olhos dentro de qualquer cidadão atento e preocupado com o mundo que o rodeia, uma penosa segregação pela doença.

Doía, só de ouvir referências a casos que tinham um tratamento de uma desumanidade perversa e brutal.

Doentes numa destas situações viam recusada a contratualização de seguros de vida e, por extensão, o acesso aos créditos à habitação e outros, alargando-se, desse modo, o já considerável fosso de desigualdades sociais.

Viam-se, assim, duplamente penalizados, impedidos de dar corpo a sonhos e ambições, por razão de uma doença que se tornava um obstáculo incompreensivelmente inultrapassável.

Era uma realidade desumana com que os doentes se deparavam, arrastados pela doença, ostracizados por uma visão aviltante da vida e dos direitos humanos.

A Assembleia da República prepara-se, agora, para aprovar a lei na generalidade, pondo fim a um calvário deprimente e indigno que não poupava ninguém e envergonhava a todos.

É certo que faltará depois a sempre morosa e arrastada regulamentação, mas os principais muros estarão derrubados com a convergência das vontades dos agentes políticos e a entrada em vigor desta “lei do esquecimento”.

Continuar pelo caminho da segregação não era digno de uma sociedade igualitária e civilizada e que pretendesse ver-se reconhecida como justa.

Há mais vida para lá dos juros, dos bónus e dos prémios.

Já que as máquinas predadoras e trituradoras, que são os bancos e as seguradoras, são indiferentes e alheias aos afectos, capturados pela usura e pela ganância ilimitadas, que avance então o poder político para pôr na ordem quem, por sua iniciativa, não há forma de se acertar pelo trilho certo.

Ontem, já era tarde.

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