Leitura em dose dupla:  Tema da ‘liberdade’ subjacente às novidades da escritora Lúcia Morgado 

09/03/2024 14:58

Lúcia Morgado nasceu na Cortiçada, concelho de Aguiar da Beira, a 19 de janeiro de 1966. A frequência do 9.º ano já foi feita em Viseu, cidade que adoptou para estudar e viver. Docente de Português e Inglês há 36 anos, tem desempenhado, nos últimos 16, as funções de professora bibliotecária. Atualmente ligada ao Agrupamento de Escolas de Mangualde, Lúcia Morgado encontra-se a promover os seus dois últimos trabalhos que, embora em contextos diferentes, abordam a temática da ‘liberdade’. O Viseu Now esteve à conversa com a escritora, que falou da sua vida, obra e das recentes publicações: “A Gata Gatilde e a Dona Cremilde, uma amizade verdadeira num mundo virado do avesso” e “Celebrar ABRIL, sempre!”

Como surgiram estas duas obras?

O livro “A Gata Gatilde e a Dona Cremilde, uma amizade verdadeira num mundo virado do avesso”, nasceu na época da pandemia. No tempo em que vivemos aprisionados e amedrontados. Tempo em que a esperança foi a nossa bússola. Foi escrito em março/abril de 2020, como forma de me ocupar, sentir menos a solidão e o medo e para me dar esperança. Esta é uma história sobre a pandemia, que participou num concurso promovido pela Editora Cordel D’ Prata. A sua apresentação tardia (fevereiro de 2024), deve-se ao atraso da editora na publicação. Nessa altura, participei, igualmente, num projeto de escrita solidário “À volta da fogueira”, editado pela Emporium, com o objetivo de angariar fundos para a compra de material para o SNS. 

A história “Celebrar ABRIL, sempre!” surgiu no dia 1 de janeiro de 2024, com o objetivo de contribuir para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos, mostrando aos mais novos que a conquista da LIBERDADE foi uma grande vitória da união do povo português, que trouxe melhores condições de vida e alento num futuro mais risonho. Pretende, também, mostrar às crianças e jovens que, sendo a LIBERDADE um bem tão precioso, há que prosseguir com a luta para que continuemos a usufruir de tudo o que a mesma nos permite.

Quando começou a escrever e o que a levou a dar esse passo?

Desde sempre que gosto de ler. Devo este gosto e o hábito da leitura às carrinhas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que, na minha infância, visitavam a minha aldeia uma vez por mês. Era sempre um dia de festa. Um dia muito aguardado. Foi nessa altura que descobri a magia da leitura. Este gosto pela leitura e o reconhecimento da sua importância levou-me ao mundo escrita de histórias para crianças, com as quais pretendo motivar os mais novos para a leitura.

Contudo, comecei a escrever, mal aprendi as letras. Redigia bilhetes para os meus pais e irmãos e poemas para os meus amigos! Porém, de forma um pouco mais cuidada, aconteceu quando frequentei o curso na ESEV. Escrevia poesia, dando o meu contributo para o jornal da Associação de Estudantes. Desde aí, tenho escrito poemas e pequenos contos para os meus alunos, quando pretendo abordar determinados conceitos e valores. Para além disso, tenho alguns livros publicados, através de edição de autor, sempre com a colaboração das escolas onde tenho trabalhado e, por vezes, de algumas Câmaras Municipais (Mangualde e Viseu).

Dos livros que publiquei, apenas um se destinou a colegas. Todos os outros foram escritos ou com os alunos, ou para os alunos. Assim, o meu primeiro livro foi publicado em 1999 “A Magia dos Pequenitos” – uma obra escrita em coautoria com os meus alunos da E.B. 2, 3 de Nelas. Mais tarde, em 2003, publiquei “Abecedário de Valores”, em coautoria com o meu colega e cunhado – Fernando Pereira. Em março de 2007, no âmbito da Área de Projeto, foi a vez de “O Saber não Ocupa Lugar”, em coautoria com a minha colega e amiga – Margarida Castro, com os alunos, docentes e pais/EE da turma do 6.º A, do Agrupamento de Escolas de Campo de Besteiros. Só em 2013 é que surgiu o primeiro livro para ser apresentado às crianças, “Uma Mão-Cheia de Histórias” (4.ª edição), escrito em coautoria com a minha amiga e colega Rita Almeida e ilustrado pelo meu amigo e colega Luís Almeida. A experiência de andar a contar as minhas histórias nas escolas e nas bibliotecas foi de tal maneira enriquecedora e gratificante que, em março de 2019, publiquei a história “Um Livro Feliz” (2.ª edição); em agosto de 2020, foi publicada “Mariana, a menina que sonha acordada” (3.ª edição), pela Leya, e em dezembro de 2023 publiquei “Histórias com Sabor a Amizade”, em coautoria com os meus amigos Rita Almeida e Luís Almeida, como forma de assinalar os 10 anos do nosso primeiro livro, o qual deu origem a uma grande aventura no mundo mágico da leitura e da arte de representar as diferentes personagens de cada livro. 

Em que projetos está envolvida hoje em dia?

Atualmente, dedico grande parte do meu tempo livre a apresentar as minhas obras às crianças, em jardins de infância, escolas, bibliotecas escolares e municipais. A escrita de cada história é uma aventura e tem sempre um propósito. Outra etapa que apela à minha imaginação e que me ocupa muito tempo é pensar na forma como vou apresentar às crianças cada história. Os adereços, a personagem que vou representar, as estratégias que vou utilizar, as atividades que vou realizar com os alunos nas sessões e as que vou sugerir, os materiais que vou elaborar…

Na sua opinião, qual a melhor forma para motivar os mais novos a ler?

Considero que há muitas formas de os motivar: ler-lhes em voz alta, levá-los a feiras do livro e livrarias, levá-los ao teatro, promover concursos em torno dos livros, levá-los a encontros com autores e ilustradores, e, acima de tudo, dar o exemplo, lendo e mostrando o quanto a leitura nos faz bem, nos torna mais felizes, mais acompanhados e mais conhecedores do mundo e de nós mesmos. 

Pela sua experiência, em geral, continua a ler-se pouco ou o cenário não é tão negativo?

O meu contacto com os alunos, enquanto professora bibliotecária, mostra-me que as crianças até aos 10 anos são, no geral, leitores ávidos. Isso também se deve muito ao trabalho da Rede de Bibliotecas Escolares e aos professores bibliotecários que desempenham um papel determinante na motivação das crianças e jovens para esta atividade, que todos reconhecem ser fundamental para o crescimento pessoal e social de cada um. Noto que, onde há maior quebra nos hábitos de leitura, é na adolescência e também com muitos adultos. No entanto, acho que a leitura está a ganhar cada vez mais adeptos, nomeadamente, aqueles que deixaram de se deslumbrar pela tecnologia, retomando velhos hábitos.  

Os escritores, no nosso país, são devidamente reconhecidos e apoiados?

Na minha opinião, são poucos os que são devidamente reconhecidos e apoiados. Isso é visível pelo número de escritores que apenas se dedicam à escrita. A grande maioria dos escritores tem outra profissão para poder subsistir. Por outro lado, são quase sempre os mesmos a terem esse apoio. Naturalmente que têm mérito. Mas há que dar oportunidades a outros que também o têm. A comunicação social, nomeadamente a televisão, podia e devia dar um maior contributo nesta matéria. O poder local também o poderia e deveria fazer e de várias formas: promover mais encontros com autores, festivais e concursos literários, oferta de livros aos alunos…. Contudo, verificamos que o grande destaque é dado a outras artes, nomeadamente ao mundo da música. 

E agradecimentos: são dirigidos a quem?

Agradeço a todos os que me têm incentivado a escrever e que têm colaborado comigo e às Câmaras Municipais de Mangualde e de Viseu pelo apoio. Um agradecimento especial à Carla Pinto, ilustradora do livro “Celebrar, ABRIL, sempre!”, e um bem-haja muito grande à minha família e aos amigos, nomeadamente, professores bibliotecários e outros colegas, que me têm acompanhado e apoiado nas minhas aventuras, adquirindo os meus livros, usando-os com os alunos e convidando-me para ir às escolas/bibliotecas apresentar os mesmos.

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