O tema da tuberculose está na ordem do dia em Viseu, e especialmente para quem é próximo de crianças que nasceram nos últimos meses no Hospital São Teotónio. Mas afinal porque é que esta notícia só surgiu várias semanas após o contacto da profissional de saúde com os recém-nascidos?
Atentando nos principais sintomas da tuberculose, conseguimos antever uma justificação para este desfasamento temporal. Tosse persistente, cansaço, perda de apetite e febre baixa são, à primeira vista, sintomas de uma constipação ou gripe sazonal, mas são também aqueles que se associam à tuberculose. A grande diferença assenta na evolução destes sintomas. Enquanto nos casos de gripe os sintomas surgem de forma relativamente abrupta, em cerca de 2-3 dias, a evolução da tuberculose é lenta e gradual, com degradação progressiva e indolente do estado geral, no espaço de várias semanas.
Assim sendo, porque é que não se suspeita de tuberculose em casos de sintomas respiratórios mais prolongados? Não, não é negligência do doente em procurar cuidados, nem tampouco dos médicos que não colocam essa hipótese diagnóstica. A verdade é que no ano de 2022, em Portugal, foram reportados 1.400 casos de tuberculose, mas quase 90.000 casos de gripe, o que torna esta última um diagnóstico muito mais provável quando alguém com sintomas respiratórios é examinado por um profissional de saúde. Além disso, em Portugal, os indicadores associados à tuberculose têm melhorado consistentemente e a grande maioria dos casos identificados pertence a grupos de risco, nomeadamente pessoas com infeção pelo VIH, abuso de álcool ou toxicodependentes. Ademais, todos os cidadãos deslocados que chegam a Portugal são rastreados e as crianças, portuguesas ou estrangeiras, com fatores de risco individuais ou comunitários para a tuberculose são referenciadas para vacinação com BCG.
Por isso, sendo a tuberculose transmitida por via aérea, através da inalação de gotículas quem contêm o bacilo causador da doença, da mesma forma que é transmitido o vírus da gripe, reforça-se a importância do uso de máscara e de medidas de higiene respiratória, prevenindo o contágio de ambas as patologias.
Post scriptum:
Desejam-se rápidas melhoras à profissional em causa, assim como se estima que todos os recém-nascidos cresçam saudáveis, sem represálias de uma possível infeção.
* Natural da Covilhã e migrante em Viseu com 18 anos de idade, iniciei a minha formação académica superior nesta cidade, onde também criei fortes ligações que me fizeram retornar 7 anos depois da primeira saída, para me formar em Medicina, novamente na Covilhã. Volto a Viseu já enquanto médica, terminando a minha formação no CHTV, mas também enquanto Professora Convidada da Universidade Católica Portuguesa. Acredito que embora possa, muitas vezes, cair na tentação de tentar combater esta dicotomia entre Viseu e a Covilhã, irá sempre prevalecer a dedicação ao Interior de Portugal e o empenho em provar que, com menos recursos, temos a capacidade de nos equiparar ao Litoral em vários domínios, intelectuais e não só.
Valéria Garcia