Ao longo dos últimos anos, a ciência psicológica tem vindo a tentar compreender as fragilidades que surgem de forma tão precoce na saúde mental dos mais jovens. As respostas até agora obtidas apontam para a perpetuação de ciclos familiares disfuncionais, isto é, gerações e gerações onde existe conflito, negligência e relações baseadas no distanciamento e frieza emocional. Neste sentido, um elemento comum à perpetuação de ciclos familiares disfuncionais e às fragilidades na saúde mental é a vivência de experiências traumáticas.
No domínio da epigenética (ciência que estuda a forma como o ambiente e os comportamentos do ser humano podem causar mudanças que impactam a forma como os genes funcionam), novas pesquisas mostram-nos que o trauma pode ser transmitido geneticamente até 3 gerações e destaca-se a teoria de que este fenómeno seria resultado de mudanças no ADN do ser humano, as quais afetariam negativamente a saúde das gerações seguintes à dos indivíduos que experienciam trauma.
Assim, trauma transgeracional refere-se ao trauma que passa pelas diferentes gerações. A ideia é que não necessariamente a pessoa possa ter experienciado uma situação traumática, mas o seu pai ou a avó sim (por exemplo), e então ter transmitido os sintomas e comportamentos de sobrevivência do trauma para os seus filhos, que então podem passar estes ao longo da linha familiar.
Coletivamente, temos também uma epidemia de questões sociais que estão enraizadas no trauma (violência, discriminação, guerras, pobreza, etc…). Se conseguirmos fazer o trabalho de curar traumas passados e construir sistemas nervosos saudáveis e regulados como indivíduos, famílias e comunidade, podemos quebrar os ciclos que continuam a reforçar os nossos traumas enquanto sociedade.
Uma sociedade informada sobre o trauma é o primeiro passo para quebrar os ciclos de trauma e a recuperação de nosso “eu” autêntico. O Dr. Gabor Maté dá-nos uma visão muito importante acerca deste assunto: “Precisamos de uma sociedade informada sobre o trauma em que os pais, professores, médicos, legisladores e pessoal jurídico não estão preocupados em corrigir comportamentos, fazer diagnósticos, suprimir sintomas ejulgar, mas sim em procurar compreender a raiz a partir do qual comportamentos perturbadores e doenças surgem na alma humana ferida”.