Cuidado com o que desejas, sussurrou o Destino a Telmo Pais, mas ele não quis ouvir. A lealdade tem destas coisas, não precisa de ver para crer, e o velho aio de D. João de Portugal, que professava, tal como a aia de O Tesouro, de Eça de Queirós, «a religião dos seus senhores.», tinha uma fé inabalável no regresso do seu amo, até pela promessa que este fizera à esposa na carta que lhe escrevera «na própria madrugada do dia da batalha»: «vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo.»
Quando Madalena pergunta a Telmo se essa crença não lhe mataria a filha, Telmo, ganhando consciência de que a morte de Maria seria certa, responde convictamente que a menina «não há de morrer: não, não, não, três vezes não.», recorrendo à repetição enfática da negação não só para lhe recusar a morte, mas para afirmar que por ela daria a vida.
Ao fazê-lo, nega – e por três vezes, como Pedro negou a Cristo – D. João de Portugal, não o traindo por poder ou por dinheiro – como Cristo foi traído por Judas – mas por amor.