ARTIGO DE OPINIÃO: Somos todos aprendizes dos nossos alunos

01/08/2022 19:30

«Somos aprendizes dos nossos alunos. Só quem é professor sabe que lidamos com material muito precioso, o ‘material’ humano».

A esperança na educação como fonte transformadora do ser humano e da sociedade é uma ideia de força, quase consensual.

O professor é uma pessoa em construção, portador de um nó formativo central e contínuo mas sincronizado com o seu tempo, situado num quadro temporal de mudanças, vivendo uma situação profissional plena de interrogação, que tende a afirmar-se como um objeto de estudo significativo, pelo sentido e pela pertinência e urgência que o seu trabalho pode adquirir.

Ser professor hoje implica o assumir de uma profissão que, na conjugação das exigências implicadas na sua natureza, metodologia e competências, se tornou numa atividade potencialmente ansiogénica, seja na sua generalidade, seja nos seus aspetos particulares, decorrente do trabalho de ser professor e que se cria na sua prática quotidiana.

Os desafios educativos colocados pela sociedade atual e pelo trabalho docente são cada vez mais exigentes e estão em constante mutação. Nos últimos trinta anos, assistiu-se a profundas mudanças sociais que se repercutiram nos comportamentos, estilos de vida, atitudes e valores, com elevado impacto na vida e na profissão dos profissionais da educação (Barroso, 2005).

É num contexto de incerteza face às mudanças educativas constantes que os professores da «escola de hoje» trabalham tentando, mesmo assim, (co)responder positivamente àquilo que a atualidade escolar exige.

A realidade do professor é um sistema vivo complexo, presente nas aulas com os seus conflitos interiores, as suas ambivalências e as suas contradições, os seus desejos e os receios (Ducros, 1984, citado por Alves,

1994).

Deste modo, ser professor hoje implica o assumir de uma profissão que, na conjugação das exigências implicadas na sua natureza, metodologia e objetivos, se tornou numa atividade potencialmente ansiogénica e desgastante, seja na generalidade, seja nos seus aspetos particulares, decorrente do trabalho de ser professor (Picado, 2005).

Em suma, numa sociedade cada vez mais complexa a todos os níveis, a tendência do incremento de problemas sociais é múltipla. Normalmente a responsabilidade da resolução destes problemas recai sobre a escola, particularmente sobre o professor. Instigado pela situação complexa em que o colocam, o professor vê-se na necessidade de mudar a sua postura profissional, de aperfeiçoar as suas práticas e de refletir, porque a sua experiência profissional docente não pode ser suficiente.

Os bons professores cumprem as suas funções, os professores fascinantes também com as suas tarefas, mas o seu objetivo fundamental é ensinar os alunos a serem pensadores e não repetidores de informação.

Ser professor não é somente ensinar, é aprender. Somos aprendizes dos nossos alunos, só quem é professor sabe que lidamos com material muito precioso, o “material humano”.

Tal como refere Augusto Cury (2010, p. 40): «aprendemos a conhecer-nos a nós mesmos, a ser caminhantes nas trajetórias do nosso próprio ser».

Bibliografia:

Alves (1994). A satisfação/insatisfação docente: Contributos para um estudo da satisfação/insatisfação a professores efetivos do 3.o ciclo do ensino básico e do secundário do distrito de Bragança. Bragança: Instituto Superior Politécnico de Bragança.

Barroso, J. (2005). Políticas educativas e organização escolar. Lisboa: Universidade Aberta
Cury, Augusto (2010). O Mestre da Sensibilidade. Jesus, o maior especialista no território da emoção. Publicações Dom Quixote: Alfragide: Portugal Picado, L. (2005). A ansiedade na profissão docente. Mangualde: Edições Pedagogo, Lda.

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