É inevitavelmente um dos títulos de aventuras que maior fascínio encontrou em mim, rapaz de uma dúzia de anos, por aí, quando pela primeira vez li a aventura romanceada de Herman Melville. Publicado pela primeira vez em 1851, foi na altura mal recebida pelos críticos, recebendo a atenção e os louros só depois da morte do autor (como infelizmente tantas vezes acontece com os Mestres e os Génios).
Aclamada mais tarde como “o grande romance americano”, a narrativa agora regressada vem trazer-nos um novo olhar em quadradinhos sobre esta baleia assassina (ou serão os homens os assassinos?). A obra tem sido adaptada por diversas vezes ao cinema (incluindo em animação), rádio, televisão, teatro, musicais, videojogos e outros meios, sem esquecer as múltiplas adaptações à banda desenhada. Quanto a esta adaptação de Chabouté, o primeiro volume foi originalmente publicado em França pela Vents D’Ouest em 15 de janeiro de 2014.
A história passa-se no século XIX, no auge da indústria baleeira que operava na Nova Inglaterra. O narrador, Ismael é um jovem que anseia por novas experiências o que o leva a embarcar no navio baleeiro, que está prestes a zarpar, o Pequod. O misterioso capitão do navio, Ahab, tem como único objetivo vingar-se de Moby Dick a baleia branca que lhe arrancou uma perna. Toda a tripulação vai unir-se ao seu capitão em busca de vingança, tornando a viagem perigosa e doentia.
Além de uma narrativa de ação, Moby Dick, é uma obra sobre o confronto entre homem e natureza, abordando temas como religião, idealismo, pragmatismo e vingança. É uma obra atemporal, que consegue cativar o leitor de qualquer época.
Moby Dick é um verdadeiro triunfo artístico e estético do premiado artista francês Christophe Chabouté, aclamada como a mais impressionante adaptação deste clássico da literatura para os quadrinhos (Banda Desenhada).
A epopeia do obcecado capitão Ahab em busca do cachalote branco é recontada de forma magistral pelas mãos de um mestre, que optou por conservar o texto original de Herman Melville, transformando-o numa primorosa narrativa gráfica a preto e branco, registo que a mim em termos estéticos muito mais me agrada, em comparação com algumas adaptações a cores.
Paul Gillon (França), Will Eisner (EUA), Dino Battaglia (Itália), Enrique Breccia (Argentina), Franco Capriolli (Itália) são alguns dos maiores exemplos de artistas de renome mundial que viajaram artisticamente com o cachalote branco nesta endiabrada aventura marinha. Em Portugal o nosso fantástico e admirável Fernando Bento (já falecido) deixou-nos também uma adaptação editada em fascículos na revista Cavaleiro Andante, nos anos idos de 1960. Com mais de 240 páginas, divididas em dois volumes, nesta obra editada pela LEVOIR na coleção Novelas Gráfica, podemos acompanhar passo a passo a narrativa original, em vinhetas cuidadas, com belos contrastes do preto e do branco, por vezes autêntica poesia visual que não deixa nada a dever a nenhum dos seus ilustres desenhadores predecessores.
Esta combinação de forças (a força das imagens de Chabouté, nos contrastes a preto e branco, o sentido narrativo sofisticado – acompanhando o texto original, a explosão das emoções nos retratos, os cenários marinhos – lembrando por vezes as aventuras do Capitão Corto Maltese, a grande quantidade de páginas) fazem desta obra a versão definitiva de Moby Dick em banda desenhada, perfeito exemplo de uma Novela Gráfica. Uma obra admirável, um tesouro artístico a enriquecer a biblioteca de qualquer apaixonado pela bela banda desenhada e pela boa literatura de aventuras.