A rápida evolução tecnológica teve impacto significativo na vida em sociedade e, em particular, na forma como as crianças interagem com o mundo que as rodeia. O acesso facilitado e precoce a dispositivos eletrónicos leva a que seja comum observarmos crianças constantemente distraídas com ecrãs como telemóvel, tablet, televisão ou computador. É inegável que estas tecnologias trouxeram benefícios a nível educativo e recreativo. Contudo, os estudos mostram que o seu uso excessivo pode afetar significativamente o desenvolvimento intelectual infantil, além de afetar as competências físicas e emocionais1.
Quais são as recomendações para a exposição a ecrãs em idade pediátrica (antes dos 18 anos)?
O tempo de ecrã está relacionado com a idade da criança ou adolescente. A Academia Americana de Pediatria recomenda que não ocorra exposição a ecrãs antes dos 18 meses, exceto para vídeochamadas em contextos que se justifique. Daí e até aos 5 anos o tempo total de ecrãs deve limitar-se a uma hora por dia, preferencialmente com conteúdos de elevada qualidade2.
Posteriormente, na idade escolar, o tempo de ecrãs não deve prejudicar o tempo de sono, de atividade física e para interação social presencial. A criança não deve passar tempo sozinha, é fundamental que o adulto monitorize o conteúdo, além de ajudar a interpretar o que está a ser visualizado2.
Já na adolescência é normal existir vontade de utilizar as redes sociais, uma vez que estas podem dar suporte emocional aos adolescentes e, muitas vezes, levar à descoberta do seu lugar no mundo. Contudo, a impulsividade dos adolescentes leva a que seja importante relembrar o conceito de “pegada digital” dos conteúdos partilhados2.
Como posso controlar o tempo que o meu filho passa diante de um ecrã?
É possível monitorizar o tempo de ecrã e conteúdos acedidos através de aplicações disponíveis online, além das ferramentas de controlo parental presentes na maioria dos dispositivos3.
Todo o tempo de ecrã é prejudicial para a criança?
Não necessariamente, uma vez que há algumas aplicações e conteúdos que têm potencial de estimular o pensamento crítico e a criatividade4. Contudo, é fundamental que os pais também participem nestas atividades online, tentando equilibrar com atividades fora do ecrã, principalmente atividades físicas ao ar livre, de forma a garantir o bem estar e crescimento saudável.
Quais são as implicações do tempo de ecrã excessivo?
Socialização: É de conhecimento geral que o contacto presencial veio, muitas vezes, ser substituído por conversas em chats ou vídeochamadas. Questiona-se, assim, até que ponto esta faixa etária pode ficar prejudicada na capacidade empática, habilidade comunicacional e social, além da aptidão para resolver conflitos. Um estudo realizado em 2023 com mais de 7000 crianças mostrou que um maior tempo de ecrã no primeiro ano de vida está relacionado com atrasos no desenvolvimento da comunicação e resolução de problemas aos 2 e 4 anos5.
Linguagem: Há estudos que destacam a sensibilidade do cérebro em crescimento à exposição prolongada a ecrãs, condicionando negativamente o desenvolvimento cognitivo e da linguagem1,6.
Sono: A exposição à luz azul emitida pelos ecrãs, principalmente no período noturno, pode prejudicar o ciclo do sono das crianças que é fundamental para o seu desenvolvimento mental, intelectual e físico. O tempo de ecrãs excessivo pode diminuir o número de horas de sono, além de aumentar as perturbações do sono7.
Na prática, o que posso fazer para promover relação saudável com os ecrãs?
Em primeiro lugar, os pais devem dar o exemplo, reduzindo o tempo de ecrã ao mínimo, principalmente na presença dos filhos. É essencial, também, que se definam vários momentos em família com brincadeiras, passeios e jogos sem utilização de ecrãs. O tempo para ecrãs em momentos familiares deve ser definido previamente e equilibrado com atividades ao ar livre, de forma a garantir um crescimento saudável8.
Deve evitar-se também utilizar dispositivos móveis como mecanismo de distração da criança8. Esta prática deve ser desencorajada já que se sabe que as crianças devem ser capazes de criar mecanismos de autorregulação das suas emoções e de aprender a lidar com a frustração sem recorrer ao ecrã.
Há ainda uma regra que deve ser mantida: suspender a utilização de dispositivos aproximadamente uma hora antes da hora de dormir, de modo a promover uma adequada higiene do sono8.
Mensagem final
As ferramentas tecnológicas podem potenciar e estimular capacidades e conhecimentos, por outro, podem aprisioná-las e impedir que atinjam o seu verdadeiro potencial a nível físico, intelectual e emocional. É nosso dever proporcionar uma infância feliz e saudável que permita que a criança exprima as suas emoções, tendo por base valores como a empatia e respeito pelo próximo.
É possível contribuir para o desenvolvimento positivo de cada criança e prevenir a dependência digital!
Bibliografia
- Association Between Screen Time and Children’s Performance on a Developmental Screening Test | JAMA Pediatrics Journal
- Screen Time and Children | American Academy of Child and Adolescent Psychiatry
- Apps de Controlo Parental: Soluções Gratuitas e de Confiança | DECO PROTeste
- Are Some Types of Screen Time Better Than Others? | Common Sense Media
- Screen Time at Age 1 Year and Communication and Problem-Solving Developmental Delay at 2 and 4 Years | JAMA Pediatrics Journal
- The Relationship between Language and Technology: How Screen Time Affects Language Development in Early Life: A Systematic Review | Brain Sciences Journal
- Screen time and sleep among school-aged children and adolescents: A systematic literature review | Sleep Medicine Reviews
- Beyond Screen Time: Help Your Kids Build Healthy Media Use Habit | Healthy Children
[ENGLISH VERSION]
Health (i)Literacy: The impact of screens on children
Rapid technological evolution has significantly influenced societal life and the way children engage with their surroundings. The easy and early accessibility to electronic devices has become a ubiquitous sight, with children frequently absorbed in screens, be it cell phones, tablets, televisions, or computers. While these technologies undeniably bring educational and recreational benefits, studies reveal that their excessive use can notably impact on children’s intellectual development, as well as physical and emotional skills1.
What are the recommendations for screen exposure during pediatric age (before the age of 18)?
Screen time is linked to the age of the child or adolescent. The American Academy of Pediatrics advises against any screen exposure before 18 months, except for video calls in justified circumstances. From that point until the age of 5, total screen time should be restricted to one hour a day, preferably involving high-quality content2.
As children enter school age, screen time should not influence upon sleep duration, physical activity, and face-to-face social interaction. Autonomous access for children is discouraged; an adult should oversee the content and assist in interpreting what is being viewed2.
It’s natural for teenagers to be appealed to social networks, as they offer emotional support and often aid in self-discovery. However, the impulsiveness of teenagers underscores the importance of considering the “digital footprint” of shared content 2.
How can I control the time my child spends in front of a screen?
Monitoring screen time and content accessed can be achieved through online applications, in addition to parental control tools present on most devices3.
Is all screen time harmful to the child?
Not necessarily, as there are some apps and content which have the potential to stimulate critical thinking and creativity4. However, it is essential that parents also participate in these online activities, trying to balance them with off-screen activities, especially outdoor physical activities, to ensure well-being and healthy growth.
However, it’s crucial for parents to actively participate in these online activities, striving to balance them with offline activities, particularly outdoor physical activities, ensuring overall well-being and healthy growth.
What are the implications of excessive screen time?
Socialization: Face-to-face contact is often replaced by chats or video calls, affecting the age group’s empathy, communication, social skills and conflict resolution. A 2023 study with more than 7000 children revealed increased screen time in the first year of life is related to delays in associated with development delay, mainly communication and problem-solving at 2 and 4 years of age5.
Language: Some studies highlight the growing brain’s sensitivity to prolonged screen exposure, negatively affecting cognitive and language development1,6.
Sleep: Exposure to blue light exposure emitted by screens, especially at night, can disrupt children’s sleep cycle, which is fundamental for their mental, intellectual, and physical development. Excessive screen time can reduce sleep duration and increase sleep disturbances7.
What can I do to promote a healthy relationship with screens?
Firstly, parents should lead by example, minimizing screen time, especially in the presence of their children. Encouraging regular family moments with games, walks and play time without screens. Screen time during family moments should be predetermined and balanced with outdoor activities to ensure healthy growth8.
Avoiding the use of mobile devices as means of distraction is crucial8. This practice should be discouraged, as children need to develop mechanisms for self-regulation their emotions and coping with frustration without resorting to the screen.
Essential rule: stop using devices approximately one hour before bedtime to promote proper sleep hygiene8.
Final message
Technological tools can enhance and stimulate skills and knowledge; however excessive use can constrain them, holding back children’s true potential on a physical, intellectual, and emotional levels. Providing “real” happy and healthy childhood that allows children to express their emotions, rooted in values like empathy and respect for others, is crucial.
It is possible to contribute to the positive development of every child and prevent digital addiction!
Bibliography
- Association Between Screen Time and Children’s Performance on a Developmental Screening Test | JAMA Pediatrics Journal
- Screen Time and Children | American Academy of Child and Adolescent Psychiatry
- Apps de Controlo Parental: Soluções Gratuitas e de Confiança | DECO PROTeste
- Are Some Types of Screen Time Better Than Others? | Common Sense Media
- Screen Time at Age 1 Year and Communication and Problem-Solving Developmental Delay at 2 and 4 Years | JAMA Pediatrics Journal
- The Relationship between Language and Technology: How Screen Time Affects Language Development in Early Life: A Systematic Review | Brain Sciences Journal
- Screen time and sleep among school-aged children and adolescents: A systematic literature review | Sleep Medicine Reviews
- Beyond Screen Time: Help Your Kids Build Healthy Media Use Habit | Healthy Children