Face à importância da valorização da nossa enogastronomia, consagrada “Património Cultural” pela Resolução de Conselho de Ministros, 96/2000, e posteriormente por recomendação do Parlamento Europeu, foi publicado, em 2014, um relatório sobre o Património Gastronómico, onde recomenda a criação de um Observatório Europeu de Gastronomia.
Estes “ventos” não deixaram indiferentes os grupos parlamentares dos deputados à Assembleia da República que, em uníssono, formularam o Projecto de Resolução nº 1453/XII para instituir o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa.
Nessa sequência, o projecto foi subscrito por deputados de todo o país e culminou num texto conjunto, aprovado por unanimidade no dia 26 de Junho de 2015, instituindo um dia de celebração para a Gastronomia Portuguesa, Diário da República n.º 132/2015, Série I. Assim, coroando de êxito o esforço e o empenho da FPCG e das Confrarias nela filiadas, foi formalizada, no dia 13 de Julho de 2015, e apresentada a Comissão de Celebração do 1º Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, a 29 de Maio de 2016. Ficando instituído o último domingo do mês de Maio, em cada ano, para a celebração.
Depois de Aveiro 2016, Lisboa em 2017, Gaia 2018, Viseu 2019, Santarém 2020, Terras de Lafões 2022, Barcelos e Fafe 2023, em 2024 escolhemos Bragança para afirmar a emergência de festejar a gastronomia brigantina e a identidade transmontana, durante os dias 24, 25 e 26 de Maio, consagrando o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, com um vasto programa. Em jeito de resumo dos diálogos, das lições de sapiência e das intervenções políticas, servem para que destas conclusões se recolham ilações para o futuro da nossa gastronomia de raiz tradicional e para o nosso turismo gastronómico.
Bragança agradeceu e elogiou veementemente, na voz do seu Presidente e demais responsáveis institucionais presentes, esta escolha de Bragança como centro desta celebração. E por diversas razões se justificaram: pela ação estratégica da autarquia bragançana na promoção da enogastronomia regional, por uma candidatura recente da cidade de Bragança à rede das Cidades Criativas da Unesco (na área da Gastronomia), e que foi chumbada na decisão final em Paris, mas também pelo crescimento dos investimentos na agricultura e transformação de produtos agrícolas no território, reconhecida qualidade de produtos endógenos como o azeite transmontano, a castanha, o cordeiro, a vitela mirandesa, os derivados do proco (fumeiro, o Butelo e a casula), os vinhos de qualidade, entre outros produtos. Algumas ideias fundamentais deste encontro:
– Afirmação da importância crucial do Turismo gastronómico sustentável para candidaturas de investimento local e regional;
– Valorização da intervenção das autarquias e confrarias nas políticas de exigência da qualidade nas atividades ligadas à gastronomia nacional;
– Colocarmos todos um olhar crítico sobre o futuro (exigência de qualidade na restauração, excelência na produção, trabalho criativo junto das escolas, descentralização e competências, sustentabilidade alimentar, renovação das confrarias, …);
– Valorização da gastronomia no contexto da promoção dos territórios (aliando ao turismo cultural), como reflexos da alma e da criatividade popular de raiz tradicional (valorizando efetivamente as capacidades criativas ao serviço da gastronomia);
– “Nada se defende se não se ama, e nada se ama verdadeiramente se não se conhecer”! – investir mais no conhecimento sobre receituário regional, produtos locais, origem dos produtos, …;
– Prepararmo-nos para os desafios do futuro (Inteligência artificial e produção/distribuição, novos modelos económicos de exploração, mudanças sociais e propostas alimentares, …);
– Acompanhamento das novas tendências alimentares (como a preferência crescente do “vegetal” na mesa”, ou a procura de alternativas proteicas (insetos; novos vegetais, alimentos em aditivos; biológicos; …); adaptar estas novas tendências às ofertas da restauração regional;
– Modernidade sim, mas sem alterar a tradição e a originalidade das receitas; modernidade sim, com nova terminologia e explicação da confeção dos pratos; a cozinha portuguesa é e tem que ser uma atividade dinâmica, mas no respeito pela autenticidade e originalidade;
– é urgente valorizar os produtos endógenos com políticas consistentes e duradouras, fugindo à “subsídio dependência”…
Carlos Almeida – Vice-Presidente da Confraria dos Gastrónomos de Lafões