No passado dia 20 de março decorreu no IPDJ em Viseu, o Seminário “Igualdade de Género no Desporto”. Num evento onde marcaram presença várias personalidades da gestão do desporto nacional e regional, premiaram-se alguns projetos de destaque e discutiu-se uma vez mais a promoção da participação das mulheres no Desporto.
Mas, porque é que passados quase 76 anos desde que a igualdade de género passou a fazer parte do direito internacional dos direitos humanos, continuamos a ter necessidade de promover iniciativas que nos ensinem a permitir que mulheres ocupem os mesmos lugares que os homens? Que caminho devemos seguir e quais os projetos que podemos implementar nos clubes e associações locais?
Ainda que tenhamos avançado significativamente nas últimas décadas, a inclusão de mulheres no desporto, como praticantes, dirigentes, treinadoras ou agentes, enfrenta ainda desafios significativos. A desvalorização do resultado desportivo, do esforço, da dedicação e da opinião das mulheres na comunidade desportiva, é um flagelo que deve ser combatido, começando pela forma como educamos as nossas crianças.
Do ponto de vista da prática desportiva, a anulação da rotulagem de género deverá ser estimulada nas novas gerações. Todos os que nascemos nas décadas de 70, 80 e 90, certamente nos lembramos de que o futebol era para meninos e a ginástica para meninas. Recordo ainda, que nas aulas de educação física em que se praticavam modalidades de contacto ou com mais risco associado, as meninas ficavam na bancada, a desempenhar a função de claque. E, desde essa altura o que é que mudou? Muito pouco.
Para haver mais participação de mulheres no desporto temos obrigatoriamente de quebrar os estereótipos que têm passado de geração em geração. Devemos ensinar os nossos filhos de que não há desportos para rapazes e desportos para raparigas, incentivando-os a praticar um pouco de tudo, de forma que consigam encontrar algum com o qual se identifiquem, seja no Downhill, no Basquetebol, no Futebol, no Ballet ou em outro qualquer.
Mas se muito se tem escrito sobre a necessidade de aumentar a taxa de participação de praticantes femininas no desporto, ainda mais haverá a dizer sobre a falta de mulheres nos diversos cargos do mundo desportivo.
Atualmente, posso dizer que sou um orgulhoso presidente de uma associação desportiva regional que tem várias mulheres nos seus órgãos sociais, algumas delas presidentes dos respetivos órgãos e que ocupam esse lugar, não pela bandeira da igualdade, mas pelas capacidades de gestão e liderança que apresentam. Além disso, apraz-me dizer que sou presidente de uma associação desportiva regional, que tem nos seus quadros de arbitragem um número equilibrado entre homens e mulheres, assim como uma mulher na liderança de um clube profissional da modalidade que represento, o ciclismo.
Para cativar as mulheres a fazerem parte deste mundo que durante décadas foi exclusivo dos homens, devemos dar-lhes a possibilidade de entrarem no meio, espaço para se integrarem, se afirmarem e a possibilidade de serem autónomas nas suas decisões. Não sejam hesitantes em dar-lhes os cargos de liderança que elas merecem. Admito até, que na maioria das vezes conseguem ser bem mais corretas e assertivas do que nós, homens, algo que se poderá traduzir em crescimento e desenvolvimento no desporto.
Para terminar, gostaria de deixar-vos um exemplo integrador que se assim entenderem podem ter em consideração. Convido-vos a pesquisarem sobre o programa “Ciclismo no Feminino”, criado pela Associação de Ciclismo da Beira Alta, que tem como principal objetivo incentivar a participação ativa de mulheres no ciclismo, cujo modelo de projeto poderão adaptar a outras modalidades desportivas, replicando-o no vosso clube ou associação desportiva.
Mais uma vez, o que ensinamos às gerações mais jovens será o que vai mudar a mentalidade da sociedade em que vivemos.
Queremos e precisamos de mais mulheres no desporto!