No início de 2022 o Banco Central Europeu (BCE) foi surpreendido pelo aumento da inflação.
As teorias económicas e o passado sugerem e impõem um aumento das taxas de juros, de modo a reduzir a liquidez disponível no mercado, quer por via dos empréstimos quer por via das poupanças, de modo a diminuir a procura e assim diminuir os preços dos bens e serviços.
Em cerca de um ano o BCE fez nove aumentos de juros num total de 4,25 pontos percentuais, levando as taxas diretoras a atingir valores máximos.
A subida das taxas de juros teve um grande impacto nos custos de financiamento. A taxa Euribor a 6 meses disparou dos 0,63% para 3,96%, a prestação média do crédito à habitação em Portugal aumentou cerca de 100€ em apenas um ano, o juro médio dos novos financiamentos às empresas passou de 2,16% para 5,42% e o custo médio da dívida emitida pelo Estado português em 2023 é de 3,5%, o dobro do registado em 2022.
O aumento das taxas de juro teve reflexos na taxa de inflação, que depois de atingir um valor máximo na zona euro de 10,6% em outubro do ano passado, desceu para os 5,3% em junho de 2023.
Face aos resultados anteriores a tendência geral entre os economistas da zona euro é que o ciclo de subida de taxas de juros pode estar perto de terminar. Depois de uma retórica acentuada nos últimos meses por parte do BCE na subida das taxas, Cristine Lagarde afirmou na última reunião do BCE em 27 de julho que, na próxima reunião de setembro, não iria baixar as taxas de juro, podendo haver um aumento ou uma pausa.
A descida das taxas de juro será mais lenta e reduzida do que todos esperamos e desejamos. A redução apenas irá ocorrer no 2º semestre de 2024, altura em que o BCE prevê que a taxa de inflação se situe nos 2%.
Apesar das perspetivas de que as taxas de juro parem de subir, as taxas de referência situam-se nos valores máximos, pelo que os custos de financiamento das famílias e empresas portuguesas e do Estado vão a continuar a aumentar.
Mais uma vez os tempos que se avizinham são difíceis.
Não será esta a altura de novamente refletirmos se o nosso modelo económico, assente em financiamento e dívida é o correto?