A denunciada, e crescente, falta de professores em muitas escolas, particularmente, e por enquanto, em Lisboa e no Algarve, onde o custo de vida é mais caro, não surpreende. O que surpreende é que essa falha não tenha sido atalhada a tempo pelo Ministério da Educação, que, mais uma vez, parece não existir, dado o seu eclipse total.
Há, fundamentalmente, 3 variáveis que contribuem para essa realidade que vai conduzir, inevitavelmente, à acentuação de atrasos e a dificuldades na recuperação de aprendizagens por parte dos alunos.
O envelhecimento da população docente, com o esperável aumento das baixas médicas, 54.3% dos professores têm mais de 50 anos, estando Portugal entre os 5 países onde a classe docente é mais idosa, a subida das aposentações, cerca de 50 mil expectáveis, na próxima década, e uma diminuição acentuada de inscrições em cursos que habilitam ao ensino, criam, em conjunto, as condições para a formação de uma tempestade que só não é perfeita porque a redução da taxa de natalidade retira alunos às escolas e suaviza as necessidades prementes de professores.
Um qualquer simples e amador trabalho de planeamento facilmente previa, a anos de distância, a tendência de envelhecimento e de reformas, podendo os sucessivos governos ter criado condições para evitar a desgraça de, no século XXI, haver turmas completas sem professores a algumas disciplinas, durante períodos inteiros, regressando à bagunça compreensível da década de 70, com a criação de escolas oficiais em todos os concelhos.
E a terceira circunstância era contornável se houvesse a vontade política de serem criadas condições de atractividade para a profissão. Conhecidos estudos de opinião, dizem que 80% dos docentes em actividade de funções deseja reformar-se mais cedo. Sintomático. A carga burocrática que passou a recair sobre a classe docente, a idade tardia da reforma, as poucas expectativas de progressão na carreira, o processo de colocações muito centralizado e sem alterações estruturais, a pouca margem de manobra das escolas na substituição de professores, a pouca estabilidade na profissão, são, entre outros, factores que afastam os jovens das inscrições nos cursos de ensino.
Perante esta dura realidade, o Ministério da Educação vai ter agora que pôr os pés a caminho, ouvir as partes e definir políticas globais, que resolvam o problema que existe, diga-se, por recorrentes incompetências e sucessivos actos de desvalorização social da classe. Provavelmente, irá confrontar-se com corporativismos e contratempos, mas é a vida, é o preço a pagar por anos e anos a tratar problemas sérios e anunciados com recurso a pensos rápidos e a analgésicos, ao invés de antibióticos e operações estruturantes.