ARTIGO DE OPINIÃO: A educação, por cá!

25/05/2021 19:30

Em Portugal, após o venturoso 25 de Abril, a política de educação seguiu o bom caminho da democratização. Até então, por rarearem as escolas públicas, muitas “cabeças”, ficaram dadas à lavoura, pisando uva ou empurrando o arado. Emigrando, tantos outros. Muitos. Triste sina ser pobre. Democratizando-se, a educação deixou de ser “coutada” de uns tantos privilegiados, massificou-se, chegou a todos, lugares e pessoas. Ao massificar-se, milhares de adolescentes e jovens passaram a ter iguais oportunidades, com campo aberto para dar andamento aos seus potenciais talentos e aptidões. As mecânicas próprias do ensino/aprendizagem encarregar-se-iam de separar o trigo do joio, de fazer a selecção, de depurar as imperfeições. Para alcançar tal desiderato, num esforço robusto, conjugou-se a construção de escolas com o recrutamento de professores e de pessoal não docente. No interior esquecido, em cada concelho, nasceu, no mínimo, uma escola secundária, catalisadora de uma nova ordem social e de uma cidadania mais responsável, mais criativa, mais solidária. Com o tempo, até as Universidades e Politécnicos chegaram também a todos distritos. Na prática, estavam criadas as condições para só ficarem para trás os que não eram capazes, ou os que não queriam acompanhar.

Como toda a moeda tem duas faces, a medida implicou que frequentassem as escolas imensamente mais alunos, bons, sofríveis e maus. Tudo correcto se, com o tempo, a aspiração ao meio da tabela do famigerado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) não tivesse conduzido a um facilitismo invisível. Fazendo-se crer que a exigência traz o carimbo das ditaduras, tolerou-se a indisciplina, como se esta fosse o DNA das democracias, transformou-se um puxão de orelhas num acto de tortura, associou-se a imagem do professor exigente à ideia de um torcionário de meninos indefesos, impôs-se a burocracia, roubando-se tempo à didáctica e à pedagogia, valorizaram-se as estatísticas, um instrumento questionável de análise, que faz o mundo acreditar que somos um país de diplomados. Pelo caminho, por um desgraçado equívoco, acabaram as escolas comerciais e industriais, onde um quadro de professores preparados formava alunos em ofícios vitais para o dia-a-dia de cada um de nós, fazendo-os artífices competentes. No afã de levar a educação a todos, quem de direito esqueceu-se de que só vale a pena investir recursos nesse segmento se forem acompanhados de critérios de exigência, base da formação de quadros técnicos, médios ou superiores, de excelência. É esse “por maior” que faz a diferença. Se não se arrepiar caminho, pior cenário anuncia-se para quando se municipalizar a educação. Se. Então, num só, juntar-se-ão o lodo e o pântano, que tão bem se amanham na mediocridade que os define. E chegará a vez do “napalm” arrasador.

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